sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Doença e Literatura

Doença e Literatura
Virgina Woolf






C

onsidere quão comum a doença é, quão tremenda a mudança espiritual que traz, quão espantosas – quando as luzes da saúde se apagam – as regiões por descobrir que são então reveladas, que extensões desoladas e desertos da alma uma ligeira gripe deixa à vista, que precipícios e relvados pontilhados de flores brilhantes uma pequena subida de temperatura descortina, que antigos e rijos carvalhos são desenraizados em nós pela ação da doença, como nos afundamos no poço da morte e sentimos as águas da aniquilação fecharem-se sobre nossas cabeças e acordamos julgando estar na presença de anjos e harpistas quando arrancamos um dente, e voltamos à superfície na cadeira do dentista e confundimos seu “bocheche… bocheche…” com as saudações de uma divindade debruçada no chão do céu para nos dar as boas-vindas. – Quando pensamos nisso, como tantas vezes somos forçados a pensar, torna-se realmente estranho que a doença não tenha arranjado um lugar, juntamente com o amor, a guerra e o ciúme, entre os temas primordiais da literatura. 

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