domingo, 27 de setembro de 2015

Comemoração dos 30 anos do Restaurante Metamorfose


Trinta anos de Metamorfose

Trinta anos de Metamorfose

(Palavras de Reconhecimento proferidas no dia 9/9/15 por ocasião da comemoração dos 30 anos do Restaurante Metamorfose)

Penso que esta reunião é sobretudo uma homenagem àqueles que, de alguma forma, contribuíram para construir a história do Restaurante Metamorfose.

Embora alimentassem dentro de si as mais diversas aspirações, todos, sem exceção, compartilharam um mesmo sentimento. Com o intuito de fazer saber a que sentimento me refiro, permitam-me contar-lhes uma pequena narrativa tradicional do Japão.

Coroado bastante jovem, certo rei julgou que precisava de instrução. Reuniu à sua volta numerosos eruditos e pediu-lhes que escrevessem a história da humanidade.

Todos os eruditos se concentraram na missão. Após vinte anos, o trabalho veio a lume: quinhentos volumes para registrar a história da humanidade.

– Temo, disse o rei, não ter tempo de ler tudo isso antes de minha morte. Preparai-me uma edição resumida.

Passados mais vinte anos, os eruditos retornaram ao palácio com duzentos livros.

Mas o rei envelhecera ainda mais. Meio alquebrado, argumentou:
– Não me será possível ler todos esses livros. Fazei-me uma versão mais resumida.

Os eruditos trabalharam por mais vinte anos; e, momentos antes de sua morte, apresentaram ao rei a história da humanidade em apenas um volume.

       – Morrerei, pois, sem nada conhecer da história do homem – disse o monarca.

À sua cabeceira, o mais idoso dos eruditos respondeu-lhe:
– Vou explicar-vos em três palavras a história do homem: o homem nasce, sofre e morre.

Nesse exato momento, o rei expirou.

Pois bem. Todos os que participaram da história do Metamorfose se recusaram a aceitar o final dessa narrativa. Esforçaram-se mesmo por reescrevê-la, substituindo as palavras “o homem nasce, sofre e morre”, pelas seguintes: “o homem nasce, deleita-se, diverte-se, regozija-se, e, por fim, sem angústia nem temores, retorna à sua origem.”

Não foi à toa que George Ohsawa afirmou que a alegria de viver é o fundamento da longevidade. Se sofremos, deve-se isso unicamente à nossa obstinada ignorância. A vida em si não é boa nem má: é tão somente o espelho de nosso discernimento.

Proporcionar, a quantos fosse possível, o sentimento de alegria, foi esse o objetivo que congregou todos aqueles que nos permitiram chegar aonde chegamos. É preciso nomeá-los (e que me perdoem os de que imperdoavelmente me esqueço):

Paulo e Paula Savino; os saudosos Luciano e Cida; Gustavo e Vera Corner; Paulo Ohana; Denise; Ana Paula; Benedita; Socorro; Conceição; Vânia; Kionate; Sebastian; Eugênio;  Ali; Cosme; Zé Roberto; Fafi; Milton; Aparecida; Elisângela; Margarida; Omayra; Nara; Clara; Marcelo; Chumbinho; Pedro; Eulália; Alberto; Federico.

De minha parte, gostaria que, daqui a trinta anos, na comemoração dos 60 anos do Restaurante, estando eu vivo ou não, alguém incluísse meu nome entre aqueles que, laborando humildemente, ajudaram a perpetuar esse laboratório da vida chamado Metamorfose.

Laercio de Vita