quinta-feira, 30 de junho de 2016

O Segredo da Longevidade

O Segredo da Longevidade
Dr. Antônio da Silva Mello






PARA VIVER MUITO TEMPO, O ESSENCIAL É NÃO MORRER. E por isso, pode cada um atribuir sua longevidade à causa que melhor lhe parecer. Romilius Pollion, o centenário romano, acreditou que sua vitalidade proviesse de fricções oleosas e do pão molhado no vinho, quase sua única alimentação. Há informações de que foi a vida ascética, cheia de privações, que levou Santo Antão aos 105 anos, seu companheiro Macário aos 110 e o eremita Paulo aos 113 anos de idade. Gladstone, morto aos 89 anos, atribuía sua longevidade sadia ao fato de bem mastigar os alimentos; Bismarck, ao seu banho frio diário; Tennyson, ao seu bom humor; Moltke e Lesseps, aos exercícios físicos; Loew, aos preparados de cálcio, que usou durante anos; Roemheld, à ginástica respiratória. E, ao lado deles, Edison, para quem sua capacidade inventiva tinha 2 por cento de gênio e 98 de suor, chegando a trabalhar até 20 horas por dia e dormindo sempre pouco, em geral apenas 2 a 3 horas por noite, atribuía à atividade o segredo de sua vida, do seu sucesso e da sua velhice, que atingiu os 82 anos.  Heisler refere ter encontrado na Suécia um velho de 94 anos extraordinariamente bem conservado, ágil, sadio, apesar de ter sempre trabalhado ativamente, o qual atribuía sua verde velhice ao fato de comer arenques salgados com frequência.

Referências desse gênero são numerosas, acreditando quase sempre cada longevo ter encontrado a fórmula graças à qual conseguiu alcançar idade avançada. Até o abuso do cachimbo, o uso imoderado do álcool e o repouso excessivo na cama têm sido considerados por alguns como fatores de sua grande velhice! Mas tudo isso é concluído a posteriori, no final da experiência, quando não é mais possível verificar o que foi útil ou prejudicial. A frequência dos centenários na Bulgária, tal como tem sido inúmera vezes citado, é impressionante. Em 1920, numa população de 4 milhões de habitantes, havia aí 3.800 centenários, enquanto a Alemanha, com uma população de mais de 60 milhões, possuía, na mesma época, apenas 200. Pois bem, na Bulgária, são os pastores, que no verão dormem ao livre e vivem sobretudo de leite, de coalhadas, de queijo e de alguma verdura, sendo em geral magros ou até desnutridos, que fornecem a grande proporção de centenários, razão pela qual Metchnikoff e outros sábios procuraram na alimentação e principalmente em sua influência sobre a flora intestinal a explicação para tão avançadas velhices.

Particularmente interessante é o fato das restrições alimentares parecerem ter influência sobre a extensão da vida, no sentido de uma deficiência de alimentação ser mais favorável que a abastança e o excesso. Kuczynski, em observações feitas em camponeses russos, verificou que a fome quando não mata também não prejudica e até prolonga a vida: “Das karge Leben bekommt prachtvoll”! É o que, aliás, tem sido observado em todas as regiões do globo, onde com frequência são encontrados macróbios que, por assim dizer, vivem à mercê das eventualidades, ao embate das dificuldades e vicissitudes da vida. Muitos deles a ganham até à custa de intenso trabalho, passando às vezes grandes privações, embora vivendo com saúde e não raro sendo até fecundos na procriação. Um inquérito feito entre os centenários de Wurtenberg, na Alemanha, mostrou não haver entre eles um só vegetariano e que sua maioria tivera, em vez de contorto e abundância, antes vidas de lutas e dificuldades. Um caso muito célebre, talvez mais pelo fato de sua autópsia ter sido feita por Harvey, é o de Thomas Parr, um podre aldeão de Shropshire, que até aos 130 anos se entregou a trabalhos pesados, morrendo em Londres com quase 153 anos. Idêntico é o caso de Drakenberg, na Suécia, que viveu de 1626 até 1772, portanto 146 anos. Drakenberg foi marinheiro até a idade de 91 anos, tendo passado 15 anos em cativeiro em mãos de corsários africanos.

Informações dessa natureza são encontradas em numerosas publicações, sempre acordes em mostrar que a vida pobre, mesmo de penúria e restrições, é mais favorável para garantir a longevidade do que a passada em conforto e abundância.


Pão cortado a machado

Pão cortado a machado
Dr. Antônio da Silva Mello



A consistência do pão e o seu preparo com cereais completos parecem ser fatores decisivos para a boa conservação de nossos dentes. E isso principalmente devido à dureza desse alimento que, em tempos antigos, só era fabricado a longos intervalos, tornando-se de tal consistência que precisava ser cortado a machado ou por meio de sabres resistentes e afiados. É isso que vem relatado frequentemente na literatura e que tem até servido para pôr em evidência quanto um trabalho de mastigação intensa deve ter contribuído para a boa conservação dos dentes de nossos antepassados.