quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Flow, por amor à água






"Flow, por amor à água"


Trata-se de um documentário acerca da degradação e desertificação de uma cidade devastada após a instalação de uma fábrica da Coca-Cola.

Os recursos hídricos da região viraram refrigerantes, bebidas açucaradas que inocentemente a maioria da população consome.

Se há alguma fábrica de bebidas em sua cidade, saiba que a água utilizada vem dos mananciais da região e, quando ela acabar, a empresa não assumirá a responsabilidade e instalará uma nova fábrica em outro lugar - com isenção fiscal, já que gera empregos.

Quem paga a conta são os que ficam: a população local com solos erodidos e poços artesianos secos.

O documentário nos faz refletir sobre a seguinte questão:
"CAN ANYONE REALLY OWN WATER?"
(Alguém pode realmente apropriar-se da água?)






terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Todos os corpos são traidores


“Todos os corpos são traidores. Essa traição, incontornável, que não é segredo para ninguém, não justifica transformar nossos dias em sala de espera, espectadores conformados e passivos da degradação das células e dos projetos de futuro, aguardando o dia da traição.”
Rosiska Darcy de Oliveira

Hortas Orgânicas em Cuba


Hortas Orgânicas em Cuba

Durante décadas, Cuba usou agrotóxicos e adubos químicos na agricultura. Hoje, quase toda a agricultura é orgânica, mostrando como alimentar um mundo faminto


A
pós a revolução cubana em 1959, quando Fidel Castro chegou ao poder, Cuba entrou em período de rápida modernização. A agricultura cubana foi industrializada, dominada por amplas monoculturas de produtos para o mercado (principalmente açúcar e fumo, mas também banana e café).
Os Estados Unidos impuseram um embargo econômico à Cuba comunista, forçando a pequena nação a depender do comércio com a União Soviética e outros países do bloco comunista. Condições comerciais generosas, oferecidas pela União Soviética, permitiram que Cuba vendesse seu açúcar por cinco vezes o preço de mercado e comprasse petróleo e defensivos agrícolas a baixo custo. Cuba dependia da importação de alimentos — comprando 100% do trigo, 90% do feijão e 50% do arroz consumido. Milhares de tratores foram comprados para substituir os tradicionais arados puxados por bois.
O colapso da União Soviética em 1989 foi um desastre para Cuba. O cancelamento da ajuda soviética significou que 1.300.000 toneladas de adubo químico, 17.000 toneladas de herbicidas e 10.000 toneladas de agrotóxicos não podiam mais ser importadas, e o combustível disponível para a agricultura diminuiu drasticamente. Em um ano, Cuba perdeu mais de 80% de seu comércio, e os preços do açúcar caíram. Pela primeira vez desde a revolução, o povo cubano enfrentou fome e desnutrição.
Para enfrentar essa crise, o governo e povo cubanos vêm trabalhando durante a última década com os recursos que restaram: gente, terra, animais, conhecimento e criatividade.
Milhares de pequenos lotes de terra dentro e nos arredores da capital, Havana, foram distribuídos a moradores que os transformaram em hortas produtivas. Em 1998, já havia mais de 8.000 sítios urbanos e hortas comunitárias cultivados por mais de 30.000 pessoas.
Hoje, essa agricultura urbana supre boa parte da necessidade de alimentos de Cuba.

As hortas urbanas de Cuba
A quantidade de alimentos produzidos pela agricultura urbana aumentou de 40.000 toneladas em 1995 para 115.000 toneladas em 1998.
Em 1999 a agricultura urbana orgânica (principalmente em Havana) produziu:
65% de todo o arroz consumido no país
46% dos vegetais frescos
38% das frutas não cítricas
13% de raízes, tubérculos e bananas
6% dos ovos

Quase toda a produção desses sítios é orgânica, pois é proibido por lei usar agrotóxicos dentro dos limites da capital. Os agricultores urbanos também descobriram que os problemas com pragas diminuíram devido à grande diversidade das plantas cultivadas. "Estamos atingindo o equilíbrio biológico. As pragas estão sendo controladas pela presença constante de predadores no ecossistema. Quase não preciso aplicar qualquer substância para o controle", comenta o responsável por uma das hortas urbanas.
No campo, criaram bois para substituir os tratores que se tornaram inúteis devido à falta de combustível e de peças sobressalentes. O esterco é usado para fertilizar e para formar a estrutura do solo. Um sistema integrado de controle de pragas está sendo desenvolvido para substituir os pesticidas que não estão mais disponíveis.
Foram estabelecidos mais de 200 centros regionais para informar sobre o controle biológico de baixo custo para substituir os defensivos agrícolas. A broca da cana-de-açúcar é combatida com enxames de um tipo de mosca parasítica, a Lixophaga. As lagartas são combatidas por uma pequena vespa, a Trichogramma, que se alimenta dos ovos das lagartas. Talos de bananeira são embebidos em mel para atrair formigas; estes talos são depois colocados nas plantações de batata-doce, onde as formigas controlam a broca da batata-doce — uma das grandes pragas.
Utilizando com sucesso técnicas orgânicas em todo país, Cuba mostrou que consegue alimentar sua população — neste caso, 11 milhões de habitantes — sem precisar de produtos químicos caros. Mostrou também como a produção em pequena escala pode ser eficiente, com a maior produtividade vinda de várias hortas urbanas cultivadas pela população local. Trata-se de um estudo de caso muito importante para o debate sobre a possibilidade de alimentar o mundo com formas ecológicas de agricultura.

SAL(I)VAÇÃO


SAL(I)VAÇÃO




             “Mesmo aquele que tem dentes falhos deve mastigar demoradamente, porque o fim principal do processo é o ensalivamento, que se obtém por meio de uma longa retenção e movimentação do alimento na boca.” 

             Graças a esta advertência do Professor Huberto Rohden é que me dei conta de que a mastigação encerra dois aspectos opostos: a trituração, aspecto aparente, complementar e mecânico; e a insalivação, aspecto oculto, principal e químico. 

               Subdividindo o alimento em partículas cada vez menores, a trituração abre terreno para que a saliva lhe trabalhe quimicamente regiões a princípio inatingíveis. Não faltou quem comparasse os resultados da mastigação diligente à alquimia própria da dinamização homeopática. É como se o fenômeno, protagonizado pela insalivação, liberasse e potencializasse as energias vitais – e terapêuticas – presentes nos alimentos. 

            Mas há também quem atribua à mastigação virtudes ainda mais impressionantes. Este é o caso, por exemplo, do terapeuta Lino Stanchich, que vê no mastigar consciente um capítulo à parte das transmutações biológicas:

          “Em minha opinião, quando mastigamos no mínimo 150 vezes cada bocado, os alimentos transmutam-se em qualquer elemento de que nosso corpo necessite. Nossa boca é como um reator nuclear capaz de mudar um elemento em outro. Através da prática consciente da mastigação, nós podemos transformar um elemento químico ou hormônio em outro necessário para as células e órgãos de nosso corpo. Sei que para muitos isso soa fantasioso, mas tudo que afirmo é fruto de minha própria experiência.” 

              E que experiência! Lino nos conta como aprendeu com seu pai uma lição inesquecível:

           “Mastigar bem salvou minha vida. Aprendi sobre essa simples mas profunda prática com meu pai. Meu pai sobreviveu a dois anos de grandes privações num campo de concentração nazista na II Grande Guerra Mundial. Sob condições assustadoras de frio e fome, ele descobriu que quanto mais mastigasse seu escasso alimento, e mesmo a pouca água que lhe forneciam, o resultado era mais energia, mais calor e mais resistência, o que só aumentou sua esperança e coragem. 

        Quando, depois da guerra, meu lar foi reconstruído, meu pai dividiu conosco aquela experiência: ‘Se vocês, por qualquer motivo, sentirem-se fracos, doentes, temerosos, desesperançados, mastiguem seu alimento 150 vezes ou mais. ’ Naquele tempo havia paz e fartura. Mas logo depois – contava eu então 17 anos – fui preso por motivos políticos e enviado a um campo comunista de trabalhos forçados na Iugoslávia. Ali, à semelhança de meu pai, experimentei a fome, o frio e o sofrimento. Mas seus ensinamentos sobre mastigação fizeram com que eu não só sobrevivesse, como desenvolvesse também uma grande força espiritual e mental que carrego para o resto de minha vida.” 

              A história de Lino Stanchich lembrou-me, por contraste, a de um ladrão cuja única desgraça foi não ter insalivado o suficiente. A saga do gatuno encontrei-a num obscuro texto de Honoré de Balzac, autor da vertiginosa obra A Comédia Humana. Para alívio e regozijo dos leitores, não me atreverei a recontá-la, deixando-os, como convém, na companhia do próprio Honoré:

           “Numa fragata do Rei, antes da revolução, em pleno mar, cometeu-se um roubo. O culpado estava necessariamente a bordo. Apesar dos mais severos interrogatórios, apesar do hábito de observar os menores detalhes da vida em comum que se leva num barco, nem os oficiais nem os marinheiros puderam descobrir o autor do roubo. Esse fato se tornou a ocupação de toda a tripulação. Quando o capitão e seu estado-maior estavam desesperados por fazer justiça, o contramestre disse ao comandante:

             - Amanhã de manhã eu encontrarei o ladrão.

               Grande espanto.

           No dia seguinte, o contramestre faz a tripulação reunir-se no castelo para anunciar que ia encontrar o culpado. Ordena a cada homem que estenda a mão, e distribui-lhe uma pequena quantidade de farinha. Passa-os em revista mandando que cada homem faça uma bolinha com a farinha em mistura com a saliva. E um homem não consegue fazer sua bolinha por falta de saliva. 

              - Eis o culpado – diz ele ao capitão. 

              O contramestre não estava enganado.” 

             Todo chefe de polícia sabe que ao homem exposto a situações de extremo nervosismo lhe falta a faculdade imprescindível de insalivar. E, para todos os efeitos, não há notícia de carrascos que tenham visto sentenciados cuspirem no patíbulo. 

           Que conclusão tirar dos relatos que acabamos de ler? Eu, de minha parte, extraio a seguinte: SE A PRESENÇA DA SALIVA NOS SALVA, SUA AUSÊNCIA, AO CONTRÁRIO, NOS CONDENA.