sábado, 29 de agosto de 2015

Uma espécie de suicídio



Uma espécie de suicídio





“Uma vida curta ou enferma constitui uma calamidade que o homem atrai para si mesmo mediante a imprudência e a autoindulgência. 

É uma espécie de suicídio.”


Ekken Kaibara

Viagem ao Interior de um Caroço de Umeboshi


Viagem ao Interior de um Caroço de Umeboshi
Cyntia Vann

O esbanjar parece ser uma constante em nosso mundo.
Nós, orizófagos pretensamente conscientes, decerto não nos vemos entre os perdulários. Quanta presunção, porém! Dois exemplos bastam para desfazer esta autoimagem.
Na fabricação do tofu, após a extração do leite de soja, sobra-nos o farelo, cujo destino invariável é o depósito de lixo mais próximo. Conhecido como okara, tal farelo, tradicionalmente utilizado no preparo de farofas ou refogados com legumes e verduras, é fonte privilegiada de proteínas, vitaminas e minerais.
Das fundamentais umeboshis, comemos apenas as polpas, dispensando solenemente os caroços. Como o texto que vamos ler ensina, o caroço de umeboshi, além de útil, esconde, tal qual a concha de uma ostra, pequena mas valiosa pérola : a semente rica em vitamina B₁₇ , substância rara em nossa alimentação, apesar de abundante na natureza.
Jaz, enfim, sob a aparente informação nutricional do artigo de Cyntia Vann, toda uma ética do não desperdício.



A
 determinada conserva dá-se o nome de umeboshi - um tradicional preparado japonês sem equivalente na parte ocidental do globo. A fruta com a qual é elaborada chama-se prunus mume, expressão geralmente traduzida por ameixa. Contudo, trata-se na verdade de uma espécie de damasco. Esses damascos contêm ácido cítrico e fosfórico, os quais não são destruídos quando da preparação da conserva. Colhidos na primavera, quando amadurecem, são submetidos tanto à conservação no sal quanto à desidratação ao sol, processo que já requer o calor do verão. Pela fórmula tradicional, as frutas permanecem envelhecendo na salmoura por um ano ou mais, e só então são reservadas para consumo.

Um milagre acontece neste longo processo de preparação. Como o que está em jogo são fatores extremamente expansivos (yin) e contrativos (yang), a combinação que surge é poderosíssima; é desta combinação que provém a utilidade da umeboshi. Sua forte acidez tem um paradoxal efeito alcalinizante em nosso organismo. Por exemplo, duas a três umeboshis neutralizam a acidez de meia xícara de açúcar. (Para efeito de comparação, considere-se que ¼ de xícara de kombu, 1 xícara de feijão azuki ou 2 ½ xícaras de raiz de bardana dão também conta da reviravolta provocada pela ingestão de meia xícara de açúcar). A umeboshi ainda reduz a fadiga, estimula a digestão, elimina toxinas e contribui para a absorção do cálcio.

Umeboshi contém ácido cítrico, que auxilia na retenção de um importante mineral como o cálcio. Ela também ajuda o fígado a processar o excesso de álcool, restaura a pele, regula o metabolismo do açúcar, previne e cura a anemia e alivia a dor aguda do estômago e intestino. É usada ainda como antídoto contra o envenenamento por comida e como um tranquilizante natural. Alguns consideram uma umeboshi por dia como a melhor medicina preventiva.

Acolhi essa recomendação e passei a ingerir umeboshi com regularidade, sugerindo aos meus amigos que fizessem o mesmo. Quando um deles afirmou que não seguiria meus conselhos por medo do sal contido na umeboshi, começamos a sondar alternativas isentas de sal. Foi então que descobrimos o extrato de umeboshi. Tal preparado consiste numa substância aparentemente alcatroada, dez vezes mais concentrada graças ao cozimento das frutas verdes. Ele possui 25 vezes mais ácido cítrico do que o suco de limão, além de não apresentar sal algum, o que o torna mais apropriado do que a conserva para quem sofre de pressão alta e outras condições que não toleram níveis altos de sódio. Quando aplicado à pele, o extrato cura infecções cutâneas provocadas por fungos (tinhas) e pé-de-atleta. Ele também é usado para aliviar condições opostas, tais como diarreia e constipação. Trata-se de alimento homeostático inigualável.

Além do uso convencional, tanto a conserva quanto o extrato podem ser usados para fazer chás. O chá de extrato de umeboshi é indicado nos casos de aftas, herpes labial, disenteria, dor aguda no estômago ou intestino.  Por outro lado, deixando-se ferver por 30 min uma umeboshi em um litro de água, obtém-se um chá extremamente eficaz para eliminar a sede após atividade física, caminhada ou em dias muito quentes. É refrescante e ainda nos fornece eletrólitos. Eletrólitos são muito importantes, pois uma deficiência de sódio pode levar à baixa pressão sanguínea e mesmo à parada cardíaca.

O poder da umeboshi é deveras conhecido. Há, porém, um componente dela completamente esquecido – a semente! Durante anos, mais de um professor me aconselhou a guardar os caroços de umeboshi, e assim o fiz, pensando que poderia de fato necessitar deles algum dia. Um caroço de umeboshi assemelha-se a uma pequena bola de gude, insignificante por si só e facílimo de perder. Um grupo de caroços requer um pote para armazená-los, de modo que logo uma fileira de potes foi-se formando em meu armário. “Deve existir algum modo de usá-los!”, exclamei.

Afinal encontrei uma pista numa obra sobre remédios caseiros. Um golpe de martelo revelou uma delicada semente escondida sob a velha e resistente casca. Decidi carbonizá-las no forno. Depois de 8 minutos elas ficaram negras. Moí-as até que virassem pó e – bingo! – vi-me diante de um novo remédio que nunca havia experimentado. Revendo notas de aulas, topei com a informação de que as sementes carbonizadas são excelentes para aliviar problemas de estômago, dores nos intestinos, diarreias, resfriados, úlceras estomacais, câncer no intestino, náuseas, febres, tosse. Li também que com a casca faz-se um chá indicado para anemia, leucemia e AIDS.

As cascas podem também ser carbonizadas, o que aumenta seu poder curador nos casos de doenças mais expansivas (yin). É verdade que demandam mais tempo para carbonizar: cerca de 30 minutos no forno. Como são difíceis de pulverizar, mesmo quando queimadas, reserve-as para chás, não se esquecendo de retirá-las antes de beber.

É claro que experimentei em mim mesma o poder do pó da semente carbonizada. Em certa ocasião, com o intestino solto, resolvi ingerir uma colher de chá desse preparado em forma de beberagem e dentro de dois dias já me sentia recuperada.

Nada impede também que comamos as sementes sem carbonizá-las. Sabem elas a castanhas. Uma amiga que não conseguia deixar o leito por causa de uma gripe obstinada, ligou-me para dizer que não poderia visitar-me. Eu a aconselhei a ingerir três sementes de umeboshi. A força que ainda lhe restava, ela empregou-a justamente em levantar da cama, quebrar os três caroços, apoderar-se das sementes e levá-las sofregamente à boca. No dia seguinte obtive dela uma resposta valiosa: estava surpresa com o rápido efeito da receita, pois a sensação de peso no tórax tinha desaparecido e sentia-se muito bem.

E justamente quando achava que já tinha descoberto tudo, deparou-se-me uma nova informação – a semente de umeboshi contém uma enorme quantidade de vitamina B₁₇ (laetrile, amygdalin, nitrilosides). Talvez seja mesmo o alimento com a maior concentração desta vitamina.

A B₁₇ é encontrada na semente de damasco, amêndoas amargas, macadâmia, trigo sarraceno e painço (nos EUA, as árvores de amêndoas amargas estão proibidas). Ela aparece em abundância na natureza não domesticada. Entretanto, por ser amarga, tem sido eliminada sistematicamente, ao lado de tantas outras substâncias amargas, pela prática humana de aperfeiçoar os sabores por seleção e cruzamento, tendo em vista unicamente o prazer que os alimentos possam proporcionar. Pode afirmar-se como regra geral que muitos alimentos domesticados ainda contêm vitamina B₁₇ na parte não ingerida pelo homem moderno. É o caso, por exemplo, das sementes de damasco.

O Dr. Elson Hass, autor de Staying Healthy with Nutrition: The Complete Guide to Diet and Nutritional Medicine, afirma que a ingestão de dez a vinte sementes de damasco por dia constitui boa estratégia de prevenção às doenças. Ele ainda participa-nos que a vitamina B₁₇ é útil na pressão alta e no reumatismo. Reivindica, por fim, pesquisas mais bem projetadas para determinar se a B₁₇ é eficaz em sua forma natural.

Há notícias de outros povos que reconhecem o valor das sementes de damasco. Os Hunzas, por exemplo, amam seus damascos e muito prezam seus damasqueiros. Os Hunzas são conhecidos por sua vitalidade e longevidade. Muitos deles vivem até os 100 anos e no decorrer de suas vidas são capazes de realizar trabalhos os mais árduos. Eles comem dúzias de sementes de damasco por dia, ao lado de uma dieta saudável, com quantidades desprezíveis de carne e laticínios, e de muita atividade física. O câncer é raríssimo entre eles.

Nos EUA, o FDA alega que a B₁₇ contida nas sementes de damasco é tóxica. Ela não é uma substância aprovada e negociá-la configura crime. Os médicos que a prescrevem são perseguidos pelo próprio conselho profissional.

Então, qual é o futuro da B₁₇ , a substância presente no caroço do damasco? Segundo uma reportagem da BBC News, há uma nova terapia que mobiliza os poderes do cianeto para matar as células do câncer de intestino. Ela se inspira no exemplo de algumas plantas que liberam aquela substância para se protegerem do ataque dos insetos. Na verdade, a terapia lança mão de duas drogas. A primeira colabora com uma enzima que ataca o tumor. A outra apresenta um tipo de açúcar que reage com a enzima liberando cianeto para matar as células cancerosas.

Isso se assemelha muito à ação da B₁₇. De acordo com o pesquisador Ralph Moss, a B₁₇ não funciona para todos os tipos de câncer, mas interrompe as metástases 100% das vezes. Ele explica como isso ocorre: o câncer ama ao açúcar. O açúcar da semente do damasco envolve o componente nitriloside. O câncer come o açúcar e o nitriloside é liberado. As células cancerosas apresentam grandes quantidades de uma enzima que quando encontra o nitriloside produz cianeto e benzaldeído. Ambos são venenos e podem matar o câncer.


Não quer isso dizer que a indústria do câncer finalmente deparou com a eficácia da B₁₇ mas recusa-se a aceitar as provas?

Extrato de Umeboshi

    Extrato de Umeboshi
Em japonês, o Extrato de Umeboshi chama-se Bainiku Ekisu. Bai significa ameixa; niku quer dizer polpa; e ekisu é o termo para essência.

Na verdade, o Extrato de Umeboshi é mais um medicamento do que um alimento, ao passo que a Umeboshi é mais um alimento do que um medicamento.

O Extrato é preparado da seguinte forma: a polpa crua das ameixas verdes é ralada e depois espremida com o propósito de extrair-lhe o sumo. Este é então cozido em fogo brando por aproximadamente 48 horas, ou até se transmutar numa espécie de xarope grosso e negríssimo. É necessário 1 quilo de ameixas frescas para produzir 20 gramas de extrato.

Este preparado tem efeitos similares aos da Umeboshi, mas é muito mais concentrado e – o que é aparentemente contraditório – muito menos yang: é porque fatores como sal, sol, pressão e tempo (todos yang) não entram na sua elaboração. Ele, portanto, é mais indicado para os que ainda não abrem mão de produtos animais, para os hipertensos e para aqueles que, por algum motivo, precisam controlar a ingestão de sal.

O Estrato de Umeboshi é recomendado, entre outros casos, nos seguintes:

                 - problemas estomacais: falta de apetite, vômitos, enjoo;

 - problemas intestinais, incluindo infecções;

- dor de cabeça;


- intoxicação alimentar, sobretudo por carnes, peixes e mariscos.