segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Macrobiótica e Produtos Animais (Parte Primeira)

Metamorfose 17
Publicação do Restaurante Metamorfose Alimentação Recondicionadora Autêntica
Rua Santa Luzia 405/207, Castelo, Rio de Janeiro. Tels.: 2262-6306 e 2543-0084
Edição, redação, revisão e tradução: Laercio de Vita


Do além-túmulo vem Brás Cubas dizer-nos que, quando vivo, viveu dos mortos, engordando as próprias carnes com as alheias, ou seja, com as carnes de animais abatidos. Tal prática, acrescenta ele, devia-se às tiranias do hábito, pois num dos recantos de sua alma, coberto de afagos, vivia o ideário vegetariano.

As memórias do defunto autor criado por Machado de Assis vieram a lume em 1879. Decorrido mais de século, o vegetarianismo ostenta legiões de seguidores cujas mentes e ventres se deixaram conquistar pela doutrina. (Ao contrário de Brás Cubas, os vegetarianos de hoje não se contentam com ser vegetarianos do tipo platônico: fazem eles valer seus ideais, e muitos sequer não se permitem tocar em derivados do reino animal.)

Duas talvez sejam as principais causas do crescimento inaudito do vegetarianismo. Destacam-se, em primeiro lugar, as fortes evidências acerca dos danos causados à saúde humana pelo consumo exagerado de produtos animais. Em segundo lugar, ressaltam-se as modernas técnicas de criação animal que, pela violência e crueldade empregadas, nos fazem perguntar se ainda sobrevive nos homens algum traço, por menor que seja, de humanidade.

Ao mesmo tempo que se deve celebrar esse triunfo do vegetarianismo, deve-se atentar para as preconceituosas significações que os termos “vegetariano” e “não vegetariano” passaram a assumir. Muitos se atribuem qualidades seráficas só porque deixaram de ingerir alimentos de origem animal; e, em contrapartida, imputam aos não vegetarianos – independente da quantidade e qualidade dos produtos animais por eles consumidos – toda espécie existente de inclinação demoníaca.


Entre tantos acertos, o artigo de Carl Ferré ora publicado denuncia esse tipo de dualismo. Assimilado o texto, funda-se em nós a certeza de que a única doença realmente ameaçadora atende pelo nome de exclusivismo. (N. do E.)



Macrobiótica e Produtos Animais
(Parte Primeira)
                                                                                                                                                   Carl Ferré


Chamava-se Joe. E o que o infernizava era um problema crônico no pescoço. Seguiu religiosamente a macrobiótica durante uns anos, mas o incômodo não cedeu aos influxos curativos do arroz e dos vegetais. Na verdade, o problema agravou-se.

Joe decidiu deixar o Texas e ir a Boston para consultar-se com Michio Kushi. Os conselhos de Michio, porém, não surtiram efeito. Tentou então os conselhos de Herman Aihara, que tiveram o mesmo destino dos de Michio. Ao fim e ao cabo, já não podia Joe virar a cabeça sem ter de virar o corpo inteiro: o pescoço parecia-lhe soldado aos ombros.

Joe peregrinou por consultórios mas não encontrou alívio. Finalmente, um médico lhe sugeriu um especialista na Carolina do Norte. Este último diagnosticou o problema como uma desordem óssea extremamente rara, e indicou-lhe a solução: frango! O especialista explicou-lhe que seus ossos estavam deteriorando e que havia algo no frango (e somente nele) que podia curar sua condição.

Joe e eu éramos íntimos. Eu o conheci em 1975, antes de seu problema aparecer. Praticamos macrobiótica juntos. Ele era bastante extrovertido e brincalhão – o sujeito perfeito para animar qualquer festa. Em 1978, mudei-me para a Califórnia com o fito de trabalhar na George Ohsawa Macrobiotic Foundation, e vi-o pela última vez em 1983, durante uma visita ao Texas. Ele encontrava-se completamente curado e voltara a ser o velho Joe, alegre e encantador. Perguntei-lhe como se havia curado. Ele relatou a história que resumi acima, e respondeu: “Eu abandonei a macrobiótica e comecei a comer frango.”

“Não burle a si próprio”, disse eu sem refletir, “você se tornou macrobiótico assim que passou a ingerir aquilo de que seu corpo necessitava.” Mas a ideia de que frango não condiz com macrobiótica deitara-lhe no espírito raízes tão profundas, que não havia jeito de ele compreender-me. Entretanto, a meu ver foi ele mais macrobiótico quando aceitou sua necessidade de ingerir frango do que quando persistiu numa dieta inflexível que em nada o ajudou.


ANTECEDENTES


Enquanto uns incluem produtos animais em sua prática macrobiótica, outros não o fazem. Alguns indivíduos acreditam poder usar produtos animais como parte de uma dieta saudável. Outros, ao contrário, defendem que produtos animais, excetuando-se peixe e frutos do mar, deveriam ser evitados completamente. Em suma, há aqueles que são mais inclusivos e há aqueles que são mais exclusivos.

Há razões convincentes para restringir ou evitar produtos animais que não peixes e frutos do mar, e as há também para não excluí-los da macrobiótica. Hoje, os inconvenientes de ingerir produtos animais são bem maiores do que antes. O maior inconveniente, contudo, é fazer da filosofia macrobiótica um simulacro de si mesma, reduzindo-a a uma dieta terapêutica.

Este artigo apresenta os prós e os contras da inclusão de produtos animais na prática e na teoria macrobiótica. Observe-se que daqui em diante a expressão “produtos animais” indica aqueles produtos que não provêm do ambiente marinho.

A confusão acerca do papel dos produtos animais na prática macrobiótica começou com a bibliografia macrobiótica. O livro Macrobiótica Zen, publicado em 1960, expõe com detalhes os conselhos dietéticos de George Ohsawa. Na mais famosa obra do sensei, vemos estampados os dez modos de alimentar-se a fim de alcançar e manter a saúde: cinco são caminhos vegetarianos e cinco toleram produtos animais. A lista de alimentos elaborada por Ohsawa inclui produtos como frango, peru, ovos e laticínios.


Por outro lado, Ohsawa deixa claro que produtos animais não são necessários para uma vida saudável. Ele acreditava que esses produtos inibiam o desenvolvimento espiritual, e encorajava-nos a alcançar um estágio em que não precisássemos mais ingeri-los. Quero crer que Ohsawa incluiu alimentos de origem animal em sua lista tendo em mente dois objetivos. Em primeiro lugar, para evitar que a macrobiótica se reduzisse à observância de um conjunto de regras rígidas. Em segundo lugar, para impedir que indivíduos que não abriam mão de ingerir produtos animais se afastassem da macrobiótica. Ohsawa desejava que a macrobiótica fosse o mais inclusiva possível. Ele abominava qualquer forma de exclusivismo.

Em seus escritos dos anos setenta, Herman e Cornellia Aihara arrolaram os produtos animais na categoria dos alimentos desejosos, cuja ingestão se deveria restringir a ocasiões especiais. Cornellia de fato serviu peru e outros produtos animais no dia de Ação de Graças durante muitos anos, e publicou as receitas em seu Calendar Cookbook. Ohsawa e Aihara oferecem diretrizes para o uso adequado desses alimentos, as quais incluem o uso ocasional em pequenas quantidades de animais criados livremente e alimentados organicamente. Ambos insistiram em que produtos animais não são necessários para uma vida saudável.

As considerações sobre o uso de produtos animais na prática macrobiótica tomaram outra direção com os escritos de Michio e Aveline Kushi na década de oitenta. Em Standard Macrobiotic Diet, Michio Kushi os inclui, com exceção dos peixes e frutos do mar, entre os alimentos a serem evitados. Depois de escrever que uma pequena quantidade de peixe ou frutos do mar poderia ser servida poucas vezes durante a semana, Aveline Kushi, em seu Complete Guide to Macrobiotic Cooking (de 1985), acrescenta: “Outros alimentos de origem animal, incluindo carne, aves, ovos e laticínios, deveriam ser estritamente evitados.”

Este afastamento das diretrizes de Ohsawa deu início à observância mecânica a um conjunto de regras rígidas, observância que denuncia um tipo de comportamento que Ohsawa jamais desejou fosse assumido pelos macrobióticos.

Hoje, muitos educadores macrobióticos e praticantes seguem as prescrições de Aveline e evitam completamente carne, aves, ovos e laticínios. Além disso, muitos acreditam e ensinam que esses alimentos não fazem parte da dieta macrobiótica. Quando os estudantes se defrontam com os escritos de Ohsawa e Aihara, ficam eles no mínimo confusos e se perguntam: “Afinal de contas, a macrobiótica abrange produtos animais ou não?”

A macrobiótica, que no fundo quer dizer “vida ampla”, é generosa o bastante para acolher tanto os que fazem uso de produtos animais quanto os que não fazem. Os princípios macrobióticos ensinam que todos os opostos ou antagonismos são também complementares. Podemos unificar pessoas que acreditam na compatibilidade entre uma dieta saudável e o uso de produtos animais, e pessoas que postulam a restrição absoluta desses produtos. Pessoalmente, aprecio e apoio ambas as posições; advirto, entretanto, em que ambas apresentam problemas.


PROBLEMAS COM A INCLUSÃO DE PRODUTOS ANIMAIS


Afirmar que produtos animais são permitidos pode gerar confusão. A dieta macrobiótica é primordialmente vegetariana – o uso ocasional de pequenas quantidades de animais alimentados organicamente e criados livremente, ou de produtos deles derivados, não constitui uma negação deste princípio. Note-se ainda que Ohsawa e Aihara jamais toleraram as abusivas e cruéis técnicas de criação animal.

Aqueles que excluem produtos animais alegam que aceitá-los, mesmo em pequenas quantidades, induziria as pessoas a ingeri-los quando e o quanto desejassem. Não penso assim. Ohsawa e Aihara não cansaram de chamar a atenção para os perigos de ingerir produto animal, dada principalmente a qualidade de tais alimentos na época deles. E quão mais perigosos eles se tornaram nos dias atuais! As advertências de Ohsawa e Aihara sobre o uso irrefletido e descontrolado de produtos animais não perderam, absolutamente, sua validade e relevância.

Há um mito atuante nos círculos macrobióticos que merece menção. Alguns praticantes, por excluírem produtos animais, acreditam-se detentores de um espírito ou julgamento mais desenvolvido ou de qualquer qualidade que os torna superiores àqueles que não são vegetarianos. Alguns até se recusam a sentar à mesa com pessoas que ingerem produtos animais, sem se darem ao trabalho de averiguar a quantidade e a qualidade desses alimentos.

O que está por trás da decisão de comer ou não produtos animais é igualmente importante. Um dos princípios da macrobiótica é a não exclusividade, ou melhor, a aceitação dos outros, do diferente. Ser capaz de aceitar as decisões dos outros é fundamental, especialmente se considerarmos que a maioria de nós possui parentes e amigos que ingerem carne.

Outro argumento a favor da exclusão dos alimentos de origem animal é que a maioria das pessoas começa a praticar macrobiótica com o objetivo de sanar alguma doença. Pessoas com problemas de saúde precisam – em geral, mas nem sempre - evitar produtos animais para se curarem. É claro que em algum momento se verificou que era incomparavelmente mais fácil recomendar a todas as pessoas a exclusão de produtos animais do que ensiná-las o uso apropriado deles. Mas, embora haja muitas razões para restringir o consumo de grande parte dos produtos animais, a proibição tem causado confusão e tem prejudicado a macrobiótica de muitas maneiras. O maior dano, a meu ver, é o incentivo a uma prática mecânica da macrobiótica, quando o objetivo maior é o aprendizado do Princípio Unificador.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O VENENO ESTÁ NA MESA


www.youtube.com
Documentário da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, realizado pelo cineasta brasileiro Silvio Tendler.

O documentário “O veneno está na mesa”, de Silvio Tendler – lançado dia 25/7, no Teatro Casa Grande – disponível seguintes links (ajudem a divulgar!):
Parte - 1 http://www.youtube.com/watch?v​=WYUn7Q5cpJ8&NR=1
Parte - 2 http://www.youtube.com/watch?v​=NdBmSkVHu2s&feature=related
Parte - 3 http://www.youtube.com/watch?v​=5EBJKZfZSlc&feature=related
Parte - 4 http://www.youtube.com/watch?v​=AdD3VPCXWJA&feature=related