quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Caldo de Umeboshi

Caldo de Umeboshi
Michio Kushi




O Caldo de Umeboshi é produzido com ameixas japonesas (Prunus mume) frescas, e não com as desidratadas. Ameixas japonesas ainda verdes recém-colhidas são primeiro lavadas e depois acondicionadas em tonéis junto com folhas de shissô (Perilla frutescens) e sal marinho. Um peso é colocado sobre elas. Uma vez que as ameixas não foram desidratadas, seu sumo é abundantemente extraído com a ajuda do sal e da pressão exercida pelo peso. E logo se veem as ameixas cobertas pelo seu próprio líquido. Este líquido é também conhecido pelo nome de Vinagre de Umeboshi, embora quimicamente falando não tenha nada de vinagre. Mas, sendo ele muito ácido e salgado, pode, como tal, ser usado no lugar do vinagre. Em termos de qualidade, o Caldo ou Vinagre de Umeboshi é infinitamente superior ao vinagre comum.

Além de ser usado como tempero, o Caldo de Umeboshi apresenta efeitos medicinais semelhantes aos de outros subprodutos da ameixa japonesa. Ele estimula a digestão e a função intestinal.

Como usar o Caldo de Umeboshi

Beba um copinho (de sakê) de Caldo de Umeboshi. Se esta dose se lhe mostrar demasiado forte, misture 1 ou 2 colheres de chá de Caldo de Umeboshi a uma xícara de água quente e beba-a. Tal mistura estimulará a digestão e é particularmente indicada em casos de presença de bactérias nocivas no intestino (tifo, disenteria, qualquer putrefação).

Se cozinharmos por longo tempo o Caldo de Umeboshi, obteremos um líquido espesso muito poderoso no combate a qualquer intoxicação ou desequilíbrio digestivo. Ingira uma colher de chá do preparado ou misture a mesma quantidade com um pouco de água quente. De acordo com a nossa experiência, esta bebida revela-se um medicamento muito mais potente do que qualquer droga à venda em farmácias. Problemas estomacais, disenteria ou qualquer outro desequilíbrio intestinal, especialmente aqueles que surgem quando estamos viajando, desaparecem dentro de dois ou três dias se ingerirmos diariamente uma pequena quantidade desse preparado (talvez 2 a 3 ½ xícaras por dia).

As bebidas terapêuticas oriundas da ameixa umeboshi apresentam uma indiscutível vantagem sobre seus congêneres sólidos: elas atingem o duodeno e os intestinos muito mais rapidamente e quase sem sofrer alteração em suas propriedades. Os preparados sólidos, por sua vez, permanecem durante algum tempo no estômago, onde seus efeitos terapêuticos são gradativamente reduzidos sob a influência dos líquidos digestivos.

O tradicional Caldo de Umeboshi encontra-se à venda no Restaurante Metamorfose.



segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

A Origem de Todas as Doenças

A Origem de Todas as Doenças
Carl Ferré



C
erta vez, um homem muito rico chamou Herman Aihara* à sua residência. Recebera o ricaço, havia alguns anos, orientações dietéticas do discípulo de Ohsawa. Coube a mim levar Herman ao encontro.

 Logo que chegamos, fomos convidados pelo anfitrião a explorar sua mansão de milhões de dólares e a visitar uma de suas casas noturnas na região mais valorizada da cidade.
Depois do passeio, o homem, enfim, dirigindo-se a Herman, desabafou:

- Mesmo seguindo estritamente suas recomendações, não obtive melhoras. Você advertiu que eu estava comendo demais. Reduzi, então, a quantidade de alimentos. Contratei ainda o melhor cozinheiro macrobiótico que o dinheiro pode comprar. Não observei, porém, resultado algum.

Herman respondeu-lhe:

- Desculpe-me por não me fazer entender. Eu quis dizer que você está acumulando muita coisa. A dieta é só uma pequena parte da cura. Venha, olhe-se no espelho. Você pode ver a carga pesada vergando seus ombros.

- De fato, contratei o melhor massoterapeuta da região e recebo massagem diariamente para aliviar esta tensão em meus ombros, confidenciou-nos o milionário.

 - Mas tratamentos sintomáticos não chegam à raiz dos problemas, lembrou Herman.

  - Oh, você está querendo dizer que eu tenho coisas demais e que devo doá-las. Pois saiba que trabalhei duro para consegui-las, e não estou disposto a me desfazer delas assim, sem mais nem menos, disparou sem muito pensar o ricaço.

- Você é feliz? encurralou-o Herman.

         - Muito feliz. Tenho tudo que quero, menos saúde – e é por isso que estou gastando uma fortuna com você!

          - Sua saúde e sua felicidade são responsabilidade sua, replicou com firmeza Herman. Você só precisa pagar pelas sugestões que considera úteis. Tudo o que posso dizer é que você está acumulando muitas coisas, e isso cria um bloqueio. Você teme que alguém possa roubá-lo. Você se preocupa o tempo todo com isso. É esta a razão por que vive instalando sistemas de segurança aqui e em suas casas noturnas. A raiz de seus problemas é o acúmulo de bens.

                Nessa altura da conversa, o milionário pediu a Herman que caminhassem a sós. Herman jamais me contou sobre o que conversaram; mas até hoje acho que o bloqueio que aquele homem criou para si próprio era tão poderoso, que a ideia de desapego tinha pouca chance de medrar em sua alma.

               Em contraposição a essa história, narro-lhes outra, que aconteceu muito anos atrás.

                Um dia, Herman pediu-me que convidasse um seu conhecido para o nosso encontro anual:

                 - Convide-o, ele é a pessoa mais pobre que conheço.

                 Dias depois, perguntando-me Herman se eu havia convidado o sujeito, respondi:

                  - Sim, mas ele ficou vinte minutos ao telefone contando prosa.
                  - É, ele é um sujeito muito pobre, insistiu Herman.

                  - Se contar prosa durante vinte minutos é sinal de pobreza, já não sei o que significa ser pobre, argumentei.

                   - Espere até ele chegar: verá com seus próprios olhos, vaticinou Herman.

                   Quando o “pobretão” apareceu, a primeira coisa que fez foi presentear a Herman com uma vara de pescar tinindo de nova. Imediatamente compreendi o que levava Herman a considerá-lo pobre. Segundo Herman, podre é o homem que está sempre dando ou dividindo o que recebeu.

                    Quando damos mais do que recebemos, conectamo-nos com o mistério (Deus). Quando retemos mais do que necessitamos, afastamo-nos dele. E este afastamento é a raiz de todas as doenças.

                    O homem da segunda história era saudável e feliz.

                    O da primeira, doente e infeliz.

*Terminada a Segunda Grande Guerra, com o suicídio da mulher, e à beira da loucura, Herman Aihara encontra refrigério para a alma nos ensinamentos de George Ohsawa, os quais, naquela quadra do século passado, enfatizam, não a dietoterapia, mas o desapego e a dissolução do ego.





                    

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Adeus ao luxo

Adeus ao luxo 

Chef de cozinha macrobiótica, Vera Viana abandonou uma vida de luxo em busca de saúde


No fim da década de 1970, Vera Viana morava na França e pesava apenas 40kg. A fragilidade do corpo já revelava sintomas de uma séria doença, de difícil diagnóstico. Os médicos, por fim, concluíram que ela era vítima de uma virose, provavelmente contraída durante uma temporada na Argélia. A doença comprometia sua força muscular e sua capacidade de absorver nutrientes. Veio então a pior notícia: ela teria apenas dois meses de vida. Foi aí que Vera decidiu voltar ao Brasil e começar, naquele momento, um novo capítulo. 

Para se curar, ela abriu mão dos luxos usufruídos na Cidade Luz — do exuberante guarda-roupas ao apartamento muitíssimo bem localizado. Num sítio em Mairiporã (SP), ela fez um tratamento com base na medicina oriental. “Saímos de Champs-Élysées para plantar, mexer com a terra, pisar no chão. Foi aí que percebi que não adiantava priorizar o sucesso em detrimento da saúde”, constatou. 

Durante esse período de convalescência, passou por jejuns que mudaram sua relação com os alimentos, com os gostos e cheiros. Foi aí que viu desabrochar uma antiga paixão, a culinária. Em 1986, já recuperada, Vera se mudou para Brasília, onde se tornou uma respeitada e badalada chef de cozinha macrobiótica. Num apartamento na Asa Norte, abriu um restaurante frequentado por políticos e futuros presidentes. Foram anos incríveis. Hoje, aos 63 anos, ela vive um período sabático. 

Por priorizar a saúde, Vera investiu não só numa alimentação saudável, mas também em atividades físicas. Todos os dias, corre 6km, faz musculação e alongamento na academia e ainda costuma fazer compras ou resolver pendências a pé — embora tenha carro, o qual ela compartilha com a filha. Da glamorosa vida em Paris, sobraram apenas lembranças. “Prefiro ter um guarda-roupas pequeno, mas de qualidade. Não é aquela coisa de não comprar nada e ainda usar uma roupa de 30 anos atrás. Mas acho que chegamos a um ponto de consumismo em que as pessoas deixam de usufruir as coisas: você come porque falaram que é bom, compra porque falaram que é bonito”, observa. 

Atenta às necessidades, a chef não abre mão de panelas e ferramentas de boa qualidade, mas nada fica guardado para ocasiões especiais. “Na minha casa tudo tem que funcionar e não aparecer”, reforça. Por dispensar o que considera superficial, Vera usa e abusa do tempo livre para ler, malhar, escrever e estudar. “Levantar cedo e se entusiasmar com o dia, estar bem de saúde e não ter um arsenal de remédios para tomar é a maior riqueza que existe.” Para a chef, essencial é ter saúde e vitalidade. “Ou seja, se eu tiver que ficar com pouco dinheiro, não tem problema. Não quero um carrão, nem um casarão, quero estar bem fazendo as coisas de que gosto.”