domingo, 9 de junho de 2019

Sagen Ishizuka: A Potência Transformadora do Alimento (Parte sexta)



Sagen Ishizuka:

A Potência Transformadora do Alimento
(Parte sexta)
                                                                                                               
                                                                                                                                               Ronald Kotzsch





A teoria de Ishizuka fundamenta-se em conceitos bastante simples. Em primeiro ligar, afirma que a saúde e a longevidade humanas dependem do equilíbrio, no corpo, entre os sais de sódio e potássio. Enquanto a teoria nutricional do Ocidente (tanto a daquela época quanto a de hoje) enfatizava as proteínas e os carboidratos, Ishizuka insistia na importância crucial dos minerais, em especial do sódio e potássio. A proporção entre eles determina a habilidade do corpo de absorver e utilizar outros nutrientes. De que o sódio e o potássio estejam em franca harmonia depende o funcionamento adequado de todo o organismo humano.

O segundo princípio sustenta que é o alimento o fator mais importante na determinação deste equilíbrio fundamental. Outros fatores, tais como a geografia, o clima e a frequência da atividade física, também desempenham o seu papel. Viver no litoral ou nas montanhas, num clima seco ou úmido, ser sedentário ou trabalhador braçal, todas essas variantes produzem um efeito. Mas aquilo que ingerimos é que vai fundamentalmente determinar a taxa de sódio e potássio no corpo.

Por conseguinte, e em terceiro lugar, a saúde e a doença humanas são, sobretudo, efeitos da dieta. A base do bem-estar físico é o alimento diário que fornece o equilíbrio adequado de minerais. Tal dieta proporcionará uma vida longa e livre de doenças. Por outro lado, toda doença se origina no desequilíbrio entre sódio e potássio causado por uma dieta inapropriada. Tanto as doenças contagiosas quanto as degenerativas, garante Ishizuka, têm origem no alimento. Bactérias e vírus afligem somente aqueles que se encontram debilitados e suscetíveis à doença por causa de seu desequilíbrio Na/K. Uma pessoa verdadeiramente saudável, ainda que em contato com patógenos, não cairá doente. A medicina alopática, portanto, objetivando apenas destruir o micro-organismo – em vez de fortalecer o indivíduo contra ele – baseia-se numa visão totalmente equivocada da realidade.

Tendo estabelecido que a saúde e a longevidade baseiam-se na alimentação, Ishizuka interroga-se sobre qual seria a dieta mais apropriada para os seres humanos. O que deveríamos ingerir a fim de manter o equilíbrio ideal entre os minerais? Para responder a esta questão, Ishizuka procede a uma análise da fisiologia humana, da ecologia e da história.

Ao selecionar seus alimentos, deveria o homem considerar, antes de qualquer coisa, sua estrutura fisiológica. Tanto a dentição quanto o sistema digestivo humanos indicam que, por natureza, é o homem um granívoro, ou seja, um ser que se nutre de grãos de cereais. Dos 32 dentes dispostos em sua boca, 4 são caninos pontiagudos, adequados para rasgar a carne; 8 são incisivos, próprios para cortar vegetais e frutas; e os 5/8 restantes, chamados molares, destinam-se a triturar grãos. A estrutura dentária do homem demonstra aproximadamente a porcentagem de cada tipo de alimento na dieta que cumpriria a ele adotar. Além disso, o ser humano é provido de um estômago pequeno e de um longo e retorcido tubo intestinal, enquanto os animais carnívoros apresentam estômagos grandes e intestinos curtos. O sistema digestivo humano é, portanto, especialmente estruturado para lidar com vegetais, dos quais os mais compactos e nutritivos são os cereais em grãos.

O ambiente em que vive o homem também importa ser considerado. De acordo com Ishizuka, consiste o homem, sobretudo, num produto de seu meio natural. Determinado ambiente fornece os alimentos que permitirão ao organismo humano funcionar satisfatória e saudavelmente naquela região e clima particulares. Deveria o homem, portanto, ingerir alimentos que crescem natural e abundantemente no espaço em que ele se fixou. Esses frutos da terra proveem o equilíbrio adequado de nutrientes, especialmente a proporção ideal de Na e K. Segundo Ishizuka, exceto nas regiões árticas e tropicais, o alimento mais abundante e fácil de cultivar são os cereais. A espécie pode variar de região para região; mas, em geral, conviria serem os cereais o alimento principal num clima temperado. Contêm eles, aproximadamente, a relação 3:7 de sódio e potássio, considerada por Ishizuka a ideal para a saúde humana. Os grãos integrais, que conservam a proporção natural de minerais e outros nutrientes, deveriam compor de 60 a 70% da dieta diária.

Ishizuka ainda argumentava a favor de uma dieta baseada em cereais do ponto de vista da história. Toda civilização importante adotou algum grão como alimento principal. No Japão e no Sul da China constituiu o arroz o cereal dominante; no Norte da China, este lugar coube ao painço e ao trigo; nas Américas, ao milho; na Europa do Norte, à cevada e ao centeio. O sentimento geral de dependência para com esse alimento básico é tão forte nos variados povos, que cada grão em particular foi por eles deificado e venerado.

Ishizuka sustenta, pois, que é o homem, por natureza, um comedor de cereais, e que para os habitantes das regiões temperadas não há melhor alimento que os grãos inteiros. Leguminosas, vegetais, sementes, nozes, algas marinhas, peixes, carne de caça e outros produtos regionais deveriam suplementar os cereais. Convém que tais suplementos sejam ingeridos, tanto quanto possível, frescos e na estação propícia. A sábia Natureza providencia ao homem o alimento perfeito para cada estação. Destarte, nos meses de calor, o homem deve ingerir vegetais e frutas da época. No inverno, deve ele contar com alimentos que se preservam facilmente durante um longo período (feijões, algas marinhas, peixes secos) e com frutas desidratadas e vegetais em conserva. O nabo comprido japonês, embora não medrando no inverno rigoroso, quando conservado em sal e farelo de arroz, ajuda-nos a enfrentar as temperaturas muito baixas.

Se para Ishizuka a escolha apropriada dos alimentos constitui o fundamento da boa saúde, a preparação dos mesmos não é menos importante. O uso do calor, água, sal e temperos na cozinha, e a combinação dos vários alimentos afetam o equilíbrio Na/K da refeição e, portanto, a condição daquele que a consome. Mesmo os alimentos indicados – grãos e vegetais da estação – podem provocar doenças quando mal preparados. Por outro lado, alimentos desaconselhados, tais como carne (Na em excesso) e berinjela (K em excesso), quando sabiamente preparados, podem tornar-se inócuos. Ishizuka chama a atenção para o fato de que receitas tradicionais, como carne cozida com gengibre e cebola ou berinjela cozida com missô, refletem um conhecimento, ainda que intuitivo, deste princípio.

A ideia de que é o alimento a causa principal das enfermidades sugere que ele seja também agente de cura. Se determinada dieta leva ao desequilíbrio dos minerais, ao qual se segue a doença, outra dieta pode reinstalar o equilíbrio. De fato, asseverava Ishizuka que o alimento deve ser a base de toda cura verdadeira. Com o alimento selecionado e preparado de acordo com as necessidades de cada doente, quaisquer enfermidades podem, em princípio, ser curadas.

Entretanto, as recomendações de Ishizuka não se restringem à dieta. Ele reconhece o papel complementar dos banhos e exercícios na cura. Exercícios que levam à transpiração provocam a descarga de excesso de sais e estimulam a circulação e digestão. Banhos quentes revelam um efeito semelhante, removendo minerais e instaurando o equilíbrio. Ambos os livros de Ishizuka incluem largas discussões sobre variados tipos de banhos (no vapor, com pedras quentes, turco, etc.) e prescrições para seu uso em diferentes transtornos.