terça-feira, 8 de maio de 2018

VOCÊ É COMO VOCÊ COME


VOCÊ É COMO VOCÊ COME
“Ninguém pode mastigar por nós: nisso consiste toda a nossa liberdade.”
Michio Kushi
“O alimento pode ser tanto o céu quanto o inferno.”
Swami Muktananda




C
omer é o nosso impulso mais básico, é a expressão maior de nosso instinto de sobrevivência. Talvez por ser tão simples, o ato de comer é completamente menosprezado como um dos alicerces de nossa saúde. Sim, há outros alicerces; mas, se você questiona a importância do alimento, tente jejuar por alguns dias ou observe a reação de uma criança faminta. Como acontece com todas as funções humanas básicas, comer pode se manifestar quer como um prazer descontrolado, quer como uma experiência espiritual. O modo como comemos pode simplesmente resultar em indigestão e doença, como também em cura e transformação.

Em muitas tradições e culturas, o comer é considerado um ato extremamente importante e até mesmo sagrado. Um meu amigo do Líbano afiançou-me que naquelas terras um simples camponês tem assegurado o direito de não interromper uma refeição mesmo se um rei adentrar a sua casa. A antiga lei judaica estabelecia que, se alguém tenciona ingerir um pedaço de alimento maior do que um ovo, esse alguém deve primeiro sentar-se e dar graças ao Senhor. Comer manifestando reverência constitui uma recomendação de várias práticas espirituais.

Hoje, porém, abandonamos negligentemente nossas refeições para falar ao telefone ou para atender qualquer pessoa, tornando-nos vulneráveis aos milhões de influências caóticas da vida moderna. Enquanto comemos, agitamo-nos, falamos, lemos, assistimos a programas de tevê... e depois tomamos um digestivo. De acordo com o Consumer Spending Report, os norte-americanos gastam montanhas de dinheiro por ano com digestivos.

Michael Rossoff, acupunturista e orientador macrobiótico, afirma em seu artigo intitulado Finding Peace of Mind in Troubles Times (Encontrando a Paz da Mente em Tempos Conturbados):

A experiência de comer na qual aromas, cores, texturas e gostos se reúnem para satisfazer nossos sentidos e nosso estômago –, a experiência de comer deixou de fazer parte da vida de muitas pessoas. Se você assiste à televisão, lê uma revista ou dirige um veículo enquanto come, você inevitavelmente não consegue assimilar a refeição em sua totalidade. Não me surpreendo com o fato de as pessoas comerem demais e estarem sempre famintas.

Movemo-nos, em detrimento de nossa saúde, como ratos num labirinto. Se são os alimentos um dos pilares de nosso bem-estar, os hábitos estressantes que acompanham nossas refeições estão levando nosso organismo à ruína. A maioria de nós come demasiadamente, mas encontra-se subnutrida.  Para muitos o alimento é visto como entretenimento, e não como fonte de vida e saúde. Palhaços sorridentes vendem caixas coloridas e brilhantes de comida com alto teor de açúcar e gordura. Personagens de desenhos animados, estrelas de cinema e atletas tentam convencer a população a consumir junk food.

Entretanto, um grupo crescente de pessoas está mudando seus hábitos alimentares. Desafortunadamente, nem todos alcançam o resultado esperado. E eles não sabem por quê. Na maioria dos casos, o motivo reside em que eles se preocupam somente com o que comer, e esquecem, ou nunca aprenderam, como comer. Minha experiência diz que são pouquíssimos os que sabem como extrair todos os poderes do alimento. Os efeitos da mais saudável refeição podem ser minimizados ou mesmo nulificados por um comportamento impróprio no momento de desfrutá-la.

É preciso aprender a como pôr nossa energia em circulação, a fim de que possamos receber do universo as forças benéficas, restauradoras e curativas e expulsar ou afastar aquelas prejudiciais, tóxicas e funestas. Se nada pode nos prejudicar mais do que o alimento, certo é também que nada pode nos curar mais do que ele. Comer é um ato tão singelo que dificilmente o encaramos como uma ferramenta inigualável de transformação e cura.

Cada um escolhe o que quer de sua vida. Podemos obter o máximo de benefícios dos alimentos que escolhemos comer. A atitude respeitosa à mesa, a respiração, o relaxamento, a contemplação, os exercícios de direcionamento da energia, tudo isso nos proporcionará um melhor aproveitamento das virtudes transformadoras que eles contêm. E assim nossos objetivos serão mais rapidamente alcançados.

Lino Stanchich