domingo, 30 de abril de 2017

O Decisivo Exemplo Materno

O Decisivo Exemplo Materno



P
redominasse a influência de Magotaro sobre o seu primogênito e jamais a criança haveria de tornar-se alguém. Para que o melhor dos destinos se cumprisse, decisivo foi o papel da mãe, Setsuko: por intermédio dela é que o interesse pelo conhecimento em geral e pela humanidade em particular grassou no espírito do menino.

Cinco anos após o casamento, Magotaro abandona a família para viver com a amásia.   Setsuko, a essa altura com dois filhos, agarra-se à primeira oportunidade de trabalho, nunca se queixando quer da falta de integridade do marido quer das dificuldades financeiras que a oprimem.

Anos ininterruptos de trabalho árduo tornam-na presa fácil da tuberculose. Quando a doença se mostra invencível, chama Setsuko ao leito os dois meninos. Ao mais novo, sabendo-lhe yang, recomenda a carreira militar. Ao mais velho, sabendo-lhe yin, recomenda a carreira literária. Mas logo os previne de que o conhecimento não deve restringir-se ao necessário para o desempenho de uma profissão: deve, ao contrário, espraiar-se pelas mais diversas regiões. Não deixa de confiar a ambos, porém, que a verdadeira vocação humana está em ajudar os pobres e enfermiços. Faltando-lhe o ar, afunda no leito, cerra os olhos e despede-se da vida.   Aos pequenos resta recolherem-se num monastério budista.

Quando o primogênito começa a prosperar no comércio, Magotaro reaparece pedindo-lhe dinheiro. Ao negar-lhe o filho qualquer ajuda financeira, o degenerado pai, sem a menor vacilação, dirige-se à delegacia de polícia. Vê-se o filho, então, obrigado a sustentar aquele que, em tempos passados, havia atirado no desalento e no desamparo a própria família.

Anos mais tarde, o primogênito escreveria em seu diário: “Qual a razão deste pai existir, já que não tem valor algum?”

Em contrapartida, lê-se no mesmo documento: “O que hoje sou, e o que desejo ser no futuro, devo-o integralmente à influência de minha mãe, que morreu quando eu tinha apenas 10 anos de idade.”

Antes de deitar na página o ponto final, uma breve notícia: o primogênito chamava-se George Ohsawa.