quarta-feira, 29 de junho de 2011

Ginger Compress

Compressa de Gengibre (Parte Primeira)

Metamorfose 14
Publicação do Restaurante Metamorfose Alimentação Recondicionadora Autêntica.
Rua Santa Luzia 405/207, Castelo, Rio de Janeiro. Tels.: 2262-6306 e 2532-0084.
 Edição, redação, revisão e tradução:  Laercio de Vita.





Veio-me ao conhecimento o livro de Kaare Bursell, The End of Medicine, graças ao comentário que sobre ele fez Julia Ferré na Macrobiotics Today de setembro/outubro de 2009. Segundo Julia, encontram-se no livro sugestões para estimular o corpo a curar-se a si próprio. Em particular, expõe por que e como aplicar a compressa de gengibre sobre o abdômen.

A fiarmo-nos em Julia, Kaare renova e expande a compreensão que temos dessa antiga técnica. A comentadora, ainda que usuária de longa data da compressa, não hesita em declarar: “Após ler o livro, disponho de outra visão sobre a validade desse tratamento”.

Lê-se no comentário que a principal ideia da obra é que o corpo detém a sabedoria necessária para curar-se. Caso as condições fundamentais estejam presentes, a cura pode, irradiando-se, transcender o próprio corpo e alcançar o espírito. Dieta e compressa – a primeira proporcionando os nutrientes adequados e a segunda dissolvendo a estagnação no intestino delgado – formam o substratum que permitirá não só ao corpo, mas também à mente e ao espírito renovarem-se.

Nos círculos esotéricos não é nova a noção de  que   corpo  e  espírito  constituem   uma unidade. Há entre eles como que uma relação especular: o que acontece num desses reinos reflete simultaneamente no outro.

Kaare, ledor entusiasmado de Rudolph Steiner, trouxe para a Macrobiótica os conhecimentos que hauriu nas obras do fundador da Antroposofia. E o resultado é surpreendente e algo assustador: se, por exemplo, nosso espírito se encontra preso a experiências do passado e não consegue libertar-se para o novo, a causa pode estar no mais profundo do nosso corpo, ou seja, na sujidade presa no interior de nossos intestinos.

Por tratar de enfoque tão inovador nos meios macrobióticos, o comentário de Julia obteve a merecida repercussão. Na edição seguinte de Macrobiotics Today, correspondente ao último bimestre de 2009, entre tantos artigos que nada acrescentam, a carta de uma leitora se faz ouvir. Relata-nos ela sua experiência com o método preconizado por Kaare. Dada a importância desse relato, resolvi traduzi-lo e publicá-lo. Prometo para a próxima edição a tradução do trecho do livro de Kaare dedicado à sua recriação da compressa de gengibre. Até lá!  (N. do E.)
                       





Carta de Isabel Carrasco ao editor da Macrobiotics Today, Carl Ferré, em que relata sua experiência com a Compressa de Gengibre.




Prezado Carl,

Obrigada pela resenha de Julia sobre o livro The End of  Medicine de Kaare Bursell e pelo trecho da mesma obra publicados na edição de setembro/outubro de 2009 da Macrobiotics Today.

O poder da compressa de gengibre é de fato assombroso. Aprendi a aplicá-la com Nini Koshen no Kushi Institute da Holanda – um dos poucos lugares que conheço onde a ensinam sistematicamente.

Fiquei tão impressionada com seus efeitos, que saí em busca de mais informações. Pesquisando, descobri o site www.thealchemistpages.com, mantido por Kaare Bursell. Kaare recomenda aplicar uma série de 64 compressas de gengibre sobre o abdômen. Com esse método, afirma, consegue-se livrar-se da Estagnação Intestinal Crônica que a todos afeta.

Venho ingerindo grãos e vegetais há mais de quinze anos: evidentemente não sou uma candidata à Estagnação Intestinal Crônica, certo? Errado! De acordo com Kaare, experimentamos uma melhora tão considerável do movimento intestinal após iniciar a dieta macrobiótica, que equivocadamente pensamos que tudo corre às mil maravilhas; entretanto, movimentos regulares dos intestinos não significam obrigatoriamente intestinos livres de estagnação.

Tendo de reconhecer que a certa altura minha prática já não progredia a contento, decidi dar início às compressas.

Depois de aplicar algumas compressas sobre o abdômen, senti uma vontade irresistível de  limpar  a  casa. Não qualquer limpeza, veja  bem, mas uma limpeza profunda.   Comecei a esvaziar os armários e  a desvencilhar-me  dos  velhos objetos ou daquilo de que já não necessitava. Já havia tentado algo semelhante antes, mas sempre encontrava desculpas para manter a quinquilharia a salvo. Mas dessa vez consegui livrar-me dos objetos facilmente: de repente senti-me pronta para renunciar a antigas possessões, tais como livros, roupas, sapatos e equipamentos de cozinha que já não me eram úteis. Seria toda essa limpeza exterior uma metáfora da limpeza do muco tóxico que se estava processando no interior de meus intestinos?

Embora satisfeita, continuei fazendo as compressas: se nada mais conseguisse, no mínimo já podia contar com uma casa mais limpa e organizada. Foi então que passei a sonhar com eventos pretéritos carregados de emoções – e os sonhos eram extremamente reais. Em seu livro, Kaare observa que os eventos profundamente dolorosos ficam de fato gravados ou “impressos” no material estagnado, e que este material atua como um médium no qual os eventos em questão são holograficamente impressos. Quem sabe os sonhos não significavam que a estagnação estava se desalojando e deixando finalmente meu corpo.

Ainda tenho feito compressas, e a última coisa que experimentei foi a melhora milagrosa de minha visão. Uso óculos há anos, de modo que tirá-los era como despir-me, ou seja, algo que não faria em público. Mas agora, inesperadamente, sinto cada vez menos necessidade deles.

The End of Medicine é, na minha opinião,  um dos mais importantes livros já escritos sobre Macrobiótica. Seriam as compressas de gengibre sobre o abdômen o estímulo de que o movimento macrobiótico tanto precisa? Experimentemo-las!




terça-feira, 21 de junho de 2011

Sal, função dos rins e banhos de sal

Metamorfose 13
Publicação do Restaurante Metamorfose Alimentação Recondicionadora Autêntica
Rua Santa Luzia 405/207, Castelo, Rio de Janeiro. Tels.: 2262-6306 e 2532-0084
Edição, redação, revisão e tradução: Laercio de Vita

Sal, função dos rins e banhos de sal
                                                                                                                                         por Herman Aihara

Há cerca de vinte anos, decidimos, minha mulher e eu, divulgar nosso trabalho para além dos limites da Califórnia. Para tanto, voamos do Texas a Toronto, de Miami a Vancouver. E assim o fizemos por cinco anos, reservando dois meses a cada verão. Durante as viagens, ceávamos em casa dos organizadores dos eventos. Invariavelmente, a sopa de missô que nos serviam, sabia-me insossa. Perguntando-lhes por que não a temperavam com mais missô, obtinha eu a instantânea resposta: eram eles muito sensíveis ao sal, por conta da constituição mais yang, se comparada à dos japoneses. Contudo, após anos de prática macrobiótica, a sopa de missô desses mesmos indivíduos transformou-se gradualmente e assumiu o estilo mais forte que tanto aprecio. Considero tal mudança admirável.

Em minha longa prática de orientador macrobiótico, topei com várias pessoas que diziam estar seguindo uma dieta sem sal por conselho médico. Na verdade, havia um temor generalizado com relação ao sal. A revista Time chegou mesmo a publicar um artigo taxando o sal de inimigo número um da saúde pública. A reportagem baseava-se na crença de que o sal causava pressão alta, ignorando completamente os estudos do Dr. William Conners da Oregon Health Sciences University. O Dr. Conners havia provado que o sal pode, ao contrário, reduzir a pressão alta, e que dietas sem sal são ineficazes nesses casos. Pode-se, a partir daí, deduzir a presença de outro fator nas ocorrências de pressão alta.

Alguém que aderiu a uma dieta com pouco ou nenhum sal – ao menos foi isso que verifiquei em décadas de orientação - sofre frequentemente de um ou mais dos seguintes sintomas: insônia, dor nos rins, fadiga, infecções crônicas, ausências de sucos digestivos no estômago ou sintomas alérgicos. Tais sintomas, afirmo fundamentado em minha experiência com doentes, advêm de uma única condição, a saber, debilidade renal. Se alguém permanece numa dieta com pouco ou nenhum sal por longo tempo, os rins enfraquecem. O mesmo fenômeno se verifica com quem, há bastante tempo, vem ingerindo carne ou alimentos salgados. Também quem ingere, bebe ou inala produtos químicos desenvolve debilidade renal. Em suma: nossos rins perdem a potência quando ingerimos muito ou pouco sal, e ainda quando entramos em contato com produtos químicos. Resta assinalar que os rins também se arruínam pelo consumo exagerado de líquidos.

Mas que prejuízos advêm de rins debilitados? Que papel exercem esses órgãos em nosso organismo?

O organismo produz resíduos quando carboidratos, proteínas e gorduras são metabolizados. Além disso, a morte de 280 mil células a cada segundo também produz substâncias residuais. Se estes resíduos permanecem no corpo, os fluidos corporais tornam-se ácidos, o que prejudica a função de nervos e órgãos vitais.

A composição (qualidade) e o volume (quantidade) do sangue têm de permanecer sempre constantes. Se o volume de sangue não se mantém constante, a circulação pode falhar. Pouco sangue circulando implica definhamento e morte de nossas células. Se, por outro lado, o volume sanguíneo é muito alto, o coração se ressente e pode entrar em colapso. Devemos também lembrar que o sangue tem de ser utilizado repetidas vezes. Algum sangue é eliminado e substituído, mas não muito, o que nos leva a concluir que deve ser ele, a fim de manter constante sua composição, purificado.

As funções corporais não podem ser interrompidas, nem sequer por um minuto, a fim de que o sangue seja filtrado. Todos os reparos e ajustes com relação ao sangue devem ser feitos enquanto o “motor” está em funcionamento. Podem vocês imaginar alguém dirigindo ao longo da rodovia ao mesmo tempo que repara o veículo? Pois os rins realizam algo semelhante.

O sangue se introduz nos rins, passa por vários canais e tubos e circula por tecidos e membranas que reabsorvem água, minerais e glicose. Num adulto, 125 mililitros de plasma são filtrados por minuto pelos rins, cerca de 180 litros por dia, dos quais 178 devem ser reabsorvidos.

 Rins debilitados indicam que as membranas se tornaram impotentes e não conseguem reabsorver substâncias essenciais como, por exemplo, minerais. Assim, muitas dessas substâncias essenciais são perdidas. As membranas enfraquecem por causa do excesso de trabalho exigido dos rins, quer pela presença de muito líquido no organismo, quer pela presença de muitos resíduos.

Outra função dos rins, relacionada à absorção de minerais, é manter uma condição alcalina no sangue. Cálcio, magnésio, potássio e, principalmente, sódio têm de ser reabsorvidos pelos rins para manter a alcalinidade do sangue. Se os rins se encontram enfraquecidos, como descrito acima, esses minerais se perdem na urina. Se, por outro lado, alguém vem seguindo uma dieta com pouco ou nenhum sal, pode ser que não haja sódio suficiente no organismo para manter a alcalinidade sanguínea, o que provavelmente levará a uma condição ácida. E um sangue ácido é terreno propício a várias enfermidades.

A fim de restabelecer as funções dos rins, recomendo o seguinte:

1)                 Compressa de gengibre sobre os rins todos os dias;
2)            Reduzir o consumo de sal por um mês, e então aumentar gradualmente (para aqueles que vêm ingerindo muito sal);
3)                 Caminhar descalço sobre a grama no início da manhã, quando o orvalho ainda cai. Isso estimula um ponto importante do meridiano dos rins localizado na sola dos pés;
4)                 Trabalhar duro ao ar livre para induzir o suor;
5)                 Banho com areia da praia (cubra todo o corpo com ela);
6)                 Banhos de sal.


Como e por que tomar banho de sal

Para tomar um banho de sal, adicione cerca de 900 gramas de sal numa tina com aproximadamente 90 litros de água quente. Dado seu alto valor, não é necessário usar sal marinho macrobiótico. Use um produto mais barato. Não se preocupe: o sal não penetrará em seu corpo.

A relação de 900 gramas de sal para 90 litros de água corresponde a uma solução salina a 1%. A concentração de sal desta solução é mais alta do que a encontrada nos fluidos orgânicos, que normalmente apresentam uma solução salina a 0,85%. Esta diferença de concentração gera o que denominamos pressão osmótica (pressão que a água exerce para penetrar na solução mais concentrada). A pele é semipermeável à água, mas não às outras substâncias (minerais, glicose, etc.). A água flui, portanto, do corpo para a tina. Considerando que o volume de fluidos é reduzido, ao mesmo tempo que nenhum mineral é perdido, a concentração de sais no organismo, especialmente sódio, aumenta.

Deixe-me explicar como isso acontece. Se temos 10 partes de sódio para 100 de água, a concentração de sal é de 10%. Se, com a ajuda de um filtro, reduzimos a quantidade de água para 50 partes, retendo porém as 10 partes de sódio, a concentração de sal aumenta para 20%; ou seja, a concentração de sal dobra, ainda que nenhum sal seja adicionado. De modo similar, o banho de sal aumenta a concentração de minerais nos fluidos orgânicos sem que haja a necessidade de ingerir mais sal (algo que pessoas com os rins debilitados não podem fazer).

Outra razão por que recomendo banhos de sal é que a solução alcalina do banho atrai os ácidos do corpo, expulsando-os do interior do organismo para lançá-los na tina. Isso ajuda a alcalinizar os fluidos corporais sem agredir os rins já cansados.

Finalmente, recomendo banhos de sal para pessoas com insônia. O aumento de concentração de sódio nos fluidos corporais graças aos banhos de sal relaxa o sistema nervoso. Muitas pessoas com insônia deixaram de lado os medicamentos e começaram a dormir bem depois dos banhos de sal.

Para fazer o banho de sal:

Adicione 900 gramas de sal grosso numa tina com 90 litros de água quente e permaneça dentro dela de 20 a 30 minutos. Repetir todos os dias.





Alimentação revitalizante e caminho para longevidade

domingo, 12 de junho de 2011

O sonho de consumo de todo mortal interessado em alimentação.

Por que Abandonei a Dieta Macrobiótica em prol do Princípio Unificador

Metamorfose 12
Publicação do Restaurante Metamorfose Alimentação Recondicionadora Autêntica
Rua Santa Luzia 405/207, Castelo, Rio de Janeiro. Tels.: 2262-6306 e 2532-0084
Edição, redação, revisão e tradução: Laercio de Vita



Quando Carl Ferré, presidente da George Ohsawa Macrobiotic Foundation e editor da Macrobiotics Today, vem a público dizer que abandonou a dieta macrobiótica, o mínimo que devemos fazer é dar-lhe ouvidos.
Na verdade, o alvo de Carl é certa macrobiótica apartada da vida (e, em tese, apartada dos princípios macrobióticos); ou seja, uma macrobiótica desintegrada e desintegradora.
Carl confessa que o medo e o seguir mecanicamente a dieta só o levaram ao enfraquecimento. Era a vida enviando-lhe sinais de que era necessário mudar. Mas que rumo tomar? Como saber qual o melhor caminho para si próprio?
A resposta está em desenvolver a nossa intuição, talvez o objetivo principal da verdadeira macrobiótica (Ohsawa já falava de uma Educação da Vontade).
Embora reconheça a intuição como uma força poderosa na macrobiótica, Carl não nos dirige sequer uma palavra a respeito de como desenvolvê-la. Frustrando-nos, apenas promete dedicar-se ao assunto num futuro próximo.
Enquanto aguardamos o artigo de Carl acerca de tema tão importante, ofereço-lhes um trecho que trata do contraste entre a síntese intuitiva e a análise intelectualista. Quem o assina é Masanobu Fukuoka:
“O progresso na medicina tem-nos trazido uma grande quantidade de terapias através de dietas, tais como dietas de baixa caloria para pessoas que querem perder peso, dietas leves para pessoas com problemas de estômago, dietas com pouco sal para pessoas com problemas de rins e dietas sem açúcar para pessoas com doenças pancreáticas. Mas o que acontece quando uma pessoa tem problema em dois ou três órgãos? Se este alimento não pode e aquele está proibido, então o pobre amigo – não podendo comer qualquer coisa – poderia acabar tão magro e seco quanto uma sardinha.
É um erro acreditar que como os avanços são feitos numa ampla extensão de áreas altamente especializadas, o alcance das aplicações aumenta. Não deveríamos esquecer que quanto mais altamente especializada for uma pesquisa, mais ela se afasta da perspectiva do todo.
Em uma era antes do desenvolvimento da ciência da nutrição, antes de dispensarmos qualquer pensamento sobre o que era bom ou ruim para nós, tudo o que sabíamos era que, para ficarmos saudáveis, deveríamos comer com moderação. Qual tem aplicação mais ampla? Qual é mais eficaz? A ciência da nutrição moderna com sua pesquisa especializada ou as advertências tradicionais de moderação? A ciência da nutrição moderna pode parecer ter uma aplicação mais ampla porque ela considera todos os casos. No entanto, ela proíbe primeiro uma coisa, depois outra, e as pessoas ficam se batendo nas paredes e lutando com muitos problemas novos. Simples mas completo, o conhecimento de que se deve comer com moderação aplica-se a todas as pessoas e, portanto, funciona melhor. Isto é assim porque o conhecimento que é menos discriminatório tem uma aplicação mais ampla.” (N. do E.)




Por que Abandonei a Dieta Macrobiótica em prol do Princípio Unificador
                                                                                                                            Por Carl Ferré
                                                                      


No meu caso, a dieta macrobiótica não funcionou. E olhem que observei estritamente a dieta estândar, abrindo mão dos alimentos tidos como impróprios. Depois de anos seguindo o regime padrão, vi-me, contudo, sem energia, sem forças para correr e com vários problemas de saúde. Perplexo, interroguei-me: era a minha condição o resultado de uma prática desastrosa ou a consequência de uma dieta que de fato não funcionava?

A Dieta Macrobiótica Estândar

Minha conclusão, após anos de prática, é que a dieta macrobiótica estândar tanto nos pode ser útil como prejudicial. Ela é útil, porque qualquer um pode compreendê-la e segui-la. Estão excluídos da dieta os alimentos tratados quimicamente ou excessivamente processados, como o açúcar refinado. Evitar tais alimentos conduz grande parte das pessoas a uma condição saudável.  Daí apressadamente concluírem que o que se deve fazer para afastar a doença é ingerir os alimentos permitidos e abster-se dos proibidos.
A dieta macrobiótica estândar é altamente prejudicial quando resistimos a mudanças ou recusamos ajuda qualificada, acreditando cegamente que a ingestão dos alimentos permitidos nos levará eventualmente à cura. Foi isso que aconteceu comigo. Eu estava convencido da minha melhora. O universo dirigia-me sinais de que era preciso mudar, mas eu teimosamente mantinha-me firme na dieta padrão. Outro fator prejudicial é o medo infundado de certos alimentos.
A dieta macrobiótica estândar está para a verdadeira macrobiótica assim como as rodinhas laterais estão para a prática de andar de bicicleta. Logo que conseguimos nos equilibrar, descartamos as rodinhas. Se as instalamos de novo, elas, em vez de ajudar, atrapalham. Dá-se o mesmo com a dieta macrobiótica estândar. A partir do momento em que aprendemos a usar os princípios macrobióticos, passamos a fazer as nossas próprias escolhas, em vez de seguir cegamente a dieta prescrita.
A primeira vez que uma criança anda de bicicleta sem as rodinhas, tem ela a seu lado os pais ou um amigo, que a encorajam durante certo tempo até que se sinta segura o bastante para que os adultos a deixem ir livremente. Na macrobiótica, este encorajamento constitui o trabalho dos educadores, orientadores e amigos macrobióticos.
Em lugar de continuar enfatizando a macrobiótica estândar, ou mesmo a dependência à opinião de outrem, precisamos estimular as pessoas a abandonarem as rodinhas laterais e a confiarem em seu próprio julgamento. Os princípios macrobióticos não são difíceis de aprender, e cada um de nós guarda em si uma poderosa intuição. Devemos com ela aprender, nela confiar e dela usufruir.
Logo que abandonei as rodinhas laterais (a dieta macrobiótica estândar) e aprendi a usar os princípios macrobióticos e a confiar em mim mesmo, o medo foi desaparecendo. E com ele as doenças! Continuei seguindo os princípios tanto na seleção do alimento diário quanto na de outras práticas saudáveis, e já não temo qualquer alimento da lista proibida. Hoje desfruto a vida sem as rodinhas laterais.

A Dieta de Prevenção ao Câncer

A dieta de prevenção ao câncer é similar à dieta macrobiótica estândar – ambas desenvolvidas por Michio e Aveline Kushi. A única diferença entre as duas é que a primeira se dirige às pessoas com a doença ou com medo dela. Ou seja, são as rodinhas aplicadas a uma condição específica.
Um de nossos leitores enviou-me um trecho da mais recente edição de Cancer Prevention Diet de Michio Kushi, e pediu um comentário sobre as recomendações para o século XXI nela veiculada. Aqui está o excerto:
“Para dar conta das constantes mudanças atmosféricas, ambientais e sociais, vários ajustes – nas recomendações dietéticas, nas compressas e nos outros tratamentos caseiros – foram incorporados a esta nova edição. Tais adaptações representam a resposta à hoje frenética energia ambiental e à crise da qualidade dos alimentos. O aquecimento global, a poluição, os organismos geneticamente modificados, os telefones celulares e o declínio na qualidade dos alimentos (incluindo a perda estimada de 25 a 50% dos nutrientes da maioria dos vegetais e frutas) exigem mudanças importantes na culinária macrobiótica, nos cuidados com a saúde e na cura. O planeta tornou-se mais quente e a tecnologia introduziu-se mais difusamente em nossas vidas – Internet, celulares, iPods. Como o ritmo da vida disparou, as pessoas tornaram-se mais exaltadas, mais tensas e mais inflexíveis no pensamento e na atitude. Para contrabalançar esta tendência yanguizante, que conduz a uma vida mais difícil, agitada e estressante, o alimento diário precisa ser mais leve e relaxador. Consequentemente, arroz e outros grãos cozidos à pressão – pedra angular da culinária macrobiótica – devem dar lugar, proporcionalmente, a grãos cozidos em panela comum ou no vapor. Grãos partidos também devem ser mais usados que outrora, tendo em vista a energia mais leve que contêm. É conveniente ainda que saladas e frutas frescas, sucos, óleos, sobremesas e outros alimentos sejam ingeridos com mais frequência do que antes. Os cardápios e receitas desta edição refletem essa tendência.”
Tiro o chapéu para Michio por ele entender que “mudanças importantes na culinária macrobiótica, nos cuidados com a saúde e na cura” são imprescindíveis. Suas análises e conclusões são, de um modo geral e tanto quanto posso divisar, precisas. O problema é a natureza prescritiva das recomendações.
Muitos de nós, baseados em condições pessoais e ambientais, e atentos aos princípios macrobióticos, abandonamos há tempos o arroz integral cozido à pressão. Começamos também a ingerir mais saladas frescas, frutas da estação e sucos. Alguém que está seguindo os princípios macrobióticos e confiando em seu próprio julgamento já fez os ajustes necessários. Alguns precisam de alimentos mais leves; outros, de alimentos mais concentrados. E não esqueçamos que isso pode mudar de dia para dia, de semana para semana, de mês para mês, de estação para estação, de ano para ano.

Como saber o que é melhor?

Em primeiro lugar, aprenda os princípios macrobióticos. Em segundo lugar, aprenda a confiar em sua intuição. Em terceiro lugar, aprenda a reduzir o medo.
Eis aqui a relação dos principais ensinamentos de George Ohsawa:
A Ordem do Universo
As Sete Leis da Ordem do Universo
Os Doze Teoremas do Princípio Único
As Sete Condições de Saúde
Os Sete Estágios da Doença
Os Sete Estágios do Julgamento
A Ordem do Universo revela-nos a nossa origem (donde viemos, a fonte de todas as coisas). As Sete Leis e os Doze Teoremas, ao lado das Sete Condições de Saúde e dos Sete Estágios da Doença, dão-nos as ferramentas necessárias para viver sobre a Terra. Os Sete Estágios do Julgamento elucidam a viagem de volta à nossa origem, da qual nunca realmente nos separamos. Quanto mais nos conectamos com a fonte de tudo, mais desenvolvemos nossa habilidade intuitiva e mais superamos o medo.
Confiar na intuição pode ser revolucionário. Nós temos medo de fazer a coisa “errada” e acabamos por imaginar várias hipóteses. Uma estratégia para mudar este tipo de pensamento é prestar mais atenção àquilo que realmente sentimos. Devemos ouvir a voz interior, que nos adverte quando há perigo e nos encoraja quando “sabemos” que estamos fazendo a coisa “certa”. O desenvolvimento da intuição constitui um assunto muito amplo. Planejamos abordar mais este tema no futuro.
Enquanto isso, cito um pequeno trecho de minha esposa, Julia, acerca da redução do medo. “Medo é o que fundamentalmente nos move sobre a Terra. Entre o medo e o amor, o primeiro quase sempre governa. Materializamo-nos para compreender isso, e posteriormente aprender a viver sem deixar que o medo nos domine. Sejamos, em vez de escravos do medo, libertos do amor.”

Mantendo a Macrobiótica Viva

Segundo Ohsawa, o objetivo da macrobiótica é auxiliar-nos a alcançar a autorrealização. Pouco antes de sua morte, entretanto, o sensei lastimou que nenhum de seus discípulos compreendeu-lhe integralmente os ensinamentos.
Ohsawa acreditava que a falta de entendimento se devia ao que ele denominou “pensamento enevoado”. E conforme teorizou, tal pensamento era o resultado de uma saúde precária, que, por sua vez, advinha de uma escolha equivocada dos alimentos. Por isso, os escritos de Ohsawa começaram a apresentar instruções específicas sobre dieta e saúde, ao lado de lembretes sobre os princípios universais. Na verdade, para ele, prática (dieta) e teoria (princípios) eram inseparáveis. Prática sem teoria é perigoso. Teoria sem prática é inútil.
Os anos 1960 e 1970 viram a teoria e a prática macrobióticas florescerem. As duas maiores mudanças ocorreram nos anos 1980 – a introdução da dieta macrobiótica estândar e o surgimento de uma dieta macrobiótica específica para o câncer. Dá-se hoje muita ênfase à dieta e cura e pouca ou nenhuma ênfase à teoria. Creio caber aos orientadores mais antigos (aqueles que iniciaram o movimento nos anos 1960 e 1970) corrigir esta situação.
Há uma tendência nesta direção após décadas de encontros e projetos. Há agora um encontro anual sediado em Portugal, a cada outono, de antigos professores macrobióticos; sem falar das conferências do Instituto Kushi e dos Acampamentos da George Ohsawa Macrobiotic  Foundation. Os resultados estão começando a aparecer.
A saúde da macrobiótica como movimento não difere da nossa saúde individual. No meu caso, aprendi os princípios primeiro, mas depois passei a seguir uma versão estática e prescritiva da macrobiótica. Só obtive melhora quando adotei uma prática fundamentada na teoria macrobiótica, desvencilhando-me das rodinhas laterais - ou seja, quando deixei de seguir cegamente a dieta estândar.
A interpretação da macrobiótica levada a efeito por Ohsawa teve início nos anos 1920 com os princípios. Seguiu-se um período de relativo equilíbrio entre teoria e prática nos anos 1960 e 1970, e a macrobiótica então floresceu. De 1980 a 2000 verificou-se o predomínio da prática (dieta) sobre a teoria (princípios). O curandeirismo talvez tenha se beneficiado com isso. Mas, em minha opinião, o verdadeiro progresso só virá a partir do retorno a uma apropriada ênfase nos princípios e nos objetivos mais amplos da autorrealização.