domingo, 31 de maio de 2015

Mastigação e Maturidade Espiritual


Mastigação e Maturidade Espiritual




Um velho sábio japonês observou certa vez:

“Se algo deve adquirir significado espiritual, é preciso apenas que seja simples e passível de repetição.”


Na tradição japonesa, as ações mais naturais - andar, sentar, respirar, comer, beber, escrever, cantar – tornam-se caminhos para alcançar a autorrealização. 

Neste particular, não desprezemos, por ser ele mundano, o ato de mastigar. O que é mais “simples e passível de repetição” do que o ato de mastigar? Concentra-se aí, justamente, todo um universo de possibilidades para quem busca a maturidade espiritual.

Mastigação: O Bem-Estar Espiritual

Mastigação: O Bem-Estar Espiritual
Dean Cooling



G
igante espiritual do século XX, Mahatma Gandhi cunhou a famosa sentença “mastigue os líquidos e beba os sólidos.” Por intermédio da mastigação e do jejum, Gandhi foi capaz de aprofundar suas experiências espirituais, como ele próprio afirma numa passagem menos conhecida de sua autobiografia:

“É ordinário ouvirmos que a alma nada tem que ver com o que comemos e bebemos; que o importante não é o que entra pela boca, mas o que dela sai. Há, sem dúvida, alguma verdade nisso. Contudo, em vez de examinar de perto esta questão, devo contentar-me em expor uma firme convicção: para o buscador que aspira viver em Deus e vê-Lo face a face, o autocontrole na quantidade e qualidade do alimento é tão essencial quanto o autocontrole no pensamento e na fala.”

Há tempos testemunhei a mais impressionante explanação sobre os benefícios espirituais da mastigação. Encontrava-me eu em Sierra Nevada, na Califórnia, participando do Seminário Macrobiótico de Verão. Bob Carr, o responsável pela palestra “Práticas Espirituais Esquecidas que Conduzem à Paz”, surpreendeu a todos ao atribuir à mastigação um papel fundamental no desenvolvimento espiritual. O que se segue constitui um resumo de sua inspirada palestra.

A energia cósmica, vindo de inumeráveis estrelas e galáxias, alimenta constantemente a Terra. Esta energia descendente (yang), também chamada de força celeste, introduz-se no corpo humano pelo alto da cabeça e desce verticalmente pelo canal espiritual. Inversamente, a energia gerada pela rotação da Terra entra no corpo humano pela região situada entre o ânus e os órgãos genitais, e percorre, em sentido ascendente, o mesmo canal espiritual. Esta energia ascendente (yin) é conhecida também como força terrestre. De sentidos opostos, estes dois fluxos verticais de energia eletromagnética colidem formando espirais que dão origem aos chamados chakras. A partir deles, as duas correntes – uma yin, outra yang – assumem em nosso corpo determinadas trajetórias – os famosos meridianos da medicina chinesa – por meio das quais vitalizarão todos os órgãos, tecidos e células.

Há uma região no canal espiritual crucial para o nosso desenvolvimento como seres espirituais. Na remota China, a cavidade bucal era considerada uma câmara onde a energia espiritual poderia ser ativada. Quanto mais mastigamos, mais íons positivos oriundos da força celeste acumulam-se na úvula, ao passo que mais íons negativos oriundos da força da Terra acumulam-se na língua. A energia elétrica aumenta, até que pequenos impulsos são liberados, carregando o alimento mastigado e envolvido pela saliva rica em minerais. Destarte, nossos corpos físico e energético potencializam-se, favorecendo a cura e a sensação de bem-estar. Este cenário é similar ao que ocorre numa tempestade, quando a energia é acumulada e relâmpagos são então liberados.

Além disso, quanto mais mastigamos, mais sangue se concentra na articulação mandibular, próxima às orelhas. Esta área se aquece, já que uma quantidade maior de sangue está ali circulando. A hemoglobina dos glóbulos vermelhos do sangue contém ferro, o qual apresenta propriedades eletromagnéticas. Quando mastigamos, estas partículas de ferro tornam-se altamente carregadas, criando um campo de energia de um lado a outro da cabeça. Mastigar mais resulta num campo energético mais forte.

No centro da cabeça, onde estas duas correntes poderosas de energia se encontram – uma vertical e outra horizontal – aloja-se a principal glândula do sistema endócrino, a pituitária. A glândula pituitária é então estimulada a produzir hormônios benéficos que, por sua vez, estimularão outras glândulas do sistema endócrino. Esta rede de glândulas e suas secreções desempenham um papel importante na atividade imunológica do organismo e contribuem para a proteção contra doenças.

Estes fenômenos energéticos que estão por trás da mastigação explicam a profunda sensação de paz experimentada quando mastigamos demorada e ritmicamente.