quarta-feira, 28 de março de 2018

Governar não é exercer o poder


Governar não é
exercer o poder
                                 Michio Kushi


E
m tempos pretéritos, os povos viviam de acordo com um princípio comum. Em todos os cantos do mundo, compartilhava-se o mesmo entendimento sobre a vida e a sociedade. O mundo era uma só comunidade, e as pessoas se sentiam membros de uma família planetária. Os líderes não eram políticos, mas anciãos, pois a idade constituía o fator determinante na escolha das lideranças. No Extremo-Oriente, a palavra equivalente a “professor” indica alguém que nasceu antes de nós; “Sensei”, o termo japonês para “professor”, significa “nascido antes”. Não havia palavras como “amo”, “senhor”, “chefe”. Os anciãos, portanto, eram os líderes por excelência; e as lideranças secundárias surgiam entre homens ou mulheres com dotes filosóficos e espirituais capazes de apreender a ordem do universo e aplicá-la nos vários domínios da vida.

O governo de fato não governava, no sentido de controlar e regular as pessoas, mas as informava e educava. Esse papel educativo do governo pode ser comprovado ao compulsarmos antigos documentos do Xintoísmo, a religião autóctone do Japão. Outra função do governo consistia em assegurar os alimentos básicos e necessários à vida e à saúde física, mental e espiritual da população. Esse tipo de governo podia ser exercido quer por um único ancião reconhecido como líder pela coletividade, quer por um conselho de anciãos.

Não havia noção de lei, punição ou pecado. Predominava entre os líderes o entendimento de que, violando o indivíduo as leis da natureza, mais cedo ou mais tarde teria ele que lidar com a doença e a infelicidade.  Dado que a ordem do universo se mostrava implacável nesse aspecto, escusado seria punirmo-nos uns aos outros. As lideranças tinham plena consciência de que a enfermidade podia ser curada pela autorreflexão, a qual levava invariavelmente à mudança de alimentação e à reintegração ao fluxo da natureza. Quando necessário, os anciãos atuavam como médicos e curadores.

Uma vez que não havia pecado como o concebemos hoje em dia, não havia também a necessidade de um governo da punição, da força, de um governo que exercesse o poder. Os governos atuais são baseados em leis artificiais, em leis criadas pelos homens, e não na ordem do universo, na lei natural. Mas o governo da força tende a desaparecer, pois as pessoas começam a se alimentar melhor e a contestar os valores vigentes.

As estruturas artificiais usadas para governar a sociedade se mostraram ineficazes. Um novo governo, sem poder e leis artificiais, está sendo gestado neste ambiente de contestação geral.  Seu perfil será o de um centro educacional e informativo. Quando nos referimos a um governo mundial, é disso que estamos falando, de um governo baseado na lei natural que representa e beneficia a todos. Os líderes desse governo não medem esforços para educar e livrar da ignorância todos os cidadãos do mundo.



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