VOCÊ
É COMO VOCÊ COME
“Ninguém
pode mastigar por nós: nisso consiste toda a nossa liberdade.”
Michio Kushi
“O
alimento pode ser tanto o céu quanto o inferno.”
Swami Muktananda
C
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omer é o nosso impulso mais básico, é a expressão maior
de nosso instinto de sobrevivência. Talvez por ser tão simples, o ato de comer
é completamente menosprezado como um dos alicerces de nossa saúde. Sim, há
outros alicerces; mas, se você questiona a importância do alimento, tente
jejuar por alguns dias ou observe a reação de uma criança faminta. Como
acontece com todas as funções humanas básicas, comer pode se manifestar quer
como um prazer descontrolado, quer como uma experiência espiritual. O modo como comemos pode simplesmente resultar
em indigestão e doença, como também em cura e transformação.
Em muitas tradições e
culturas, o comer é considerado um ato extremamente importante e até mesmo
sagrado. Um meu amigo do Líbano afiançou-me que naquelas terras um simples camponês
tem assegurado o direito de não interromper uma refeição mesmo se um rei
adentrar a sua casa. A antiga lei judaica estabelecia que, se alguém tenciona
ingerir um pedaço de alimento maior do que um ovo, esse alguém deve primeiro
sentar-se e dar graças ao Senhor. Comer manifestando reverência constitui uma
recomendação de várias práticas espirituais.
Hoje,
porém, abandonamos negligentemente nossas refeições para falar ao telefone ou
para atender qualquer pessoa, tornando-nos vulneráveis aos milhões de influências
caóticas da vida moderna. Enquanto comemos, agitamo-nos, falamos, lemos, assistimos
a programas de tevê... e depois tomamos um digestivo. De acordo com o Consumer Spending Report, os
norte-americanos gastam montanhas de dinheiro por ano com digestivos.
Michael Rossoff,
acupunturista e orientador macrobiótico, afirma em seu artigo intitulado Finding Peace of Mind in Troubles Times
(Encontrando a Paz da Mente em Tempos Conturbados):
A experiência de comer –
na qual aromas, cores, texturas e gostos se reúnem para satisfazer nossos
sentidos e nosso estômago –, a experiência de comer deixou de fazer
parte da vida de muitas pessoas. Se você assiste à televisão, lê uma revista ou
dirige um veículo enquanto come, você inevitavelmente não consegue assimilar a
refeição em sua totalidade. Não me surpreendo com o fato de as pessoas comerem
demais e estarem sempre famintas.
Movemo-nos, em detrimento de nossa saúde, como
ratos num labirinto. Se são os alimentos um dos pilares de nosso bem-estar, os
hábitos estressantes que acompanham nossas refeições estão levando nosso
organismo à ruína. A maioria de nós come demasiadamente, mas encontra-se
subnutrida. Para muitos o alimento é
visto como entretenimento, e não como fonte de vida e saúde. Palhaços
sorridentes vendem caixas coloridas e brilhantes de comida com alto teor de
açúcar e gordura. Personagens de desenhos animados, estrelas de cinema e
atletas tentam convencer a população a consumir junk food.
Entretanto, um grupo crescente de pessoas está
mudando seus hábitos alimentares. Desafortunadamente, nem todos alcançam o
resultado esperado. E eles não sabem por quê. Na maioria dos casos, o motivo
reside em que eles se preocupam somente com o que comer, e esquecem, ou nunca aprenderam, como comer. Minha experiência diz que são pouquíssimos os que sabem
como extrair todos os poderes do alimento. Os
efeitos da mais saudável refeição podem ser minimizados ou mesmo nulificados
por um comportamento impróprio no momento de desfrutá-la.
É preciso aprender a como pôr nossa energia em
circulação, a fim de que possamos receber do universo as forças benéficas,
restauradoras e curativas e expulsar ou afastar aquelas prejudiciais, tóxicas e
funestas. Se nada pode nos prejudicar mais do que o alimento, certo é também
que nada pode nos curar mais do que ele. Comer é um ato tão singelo que
dificilmente o encaramos como uma ferramenta inigualável de transformação e
cura.
Cada um escolhe o que quer de sua vida. Podemos
obter o máximo de benefícios dos alimentos que escolhemos comer. A atitude
respeitosa à mesa, a respiração, o relaxamento, a contemplação, os exercícios
de direcionamento da energia, tudo isso nos proporcionará um melhor aproveitamento
das virtudes transformadoras que eles contêm. E assim nossos objetivos serão
mais rapidamente alcançados.
Lino Stanchich
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