PARA VIVER MUITO TEMPO, O ESSENCIAL É NÃO MORRER. E por isso, pode cada um atribuir
sua longevidade à causa que melhor lhe parecer. Romilius Pollion, o centenário
romano, acreditou que sua vitalidade proviesse de fricções oleosas e do pão
molhado no vinho, quase sua única alimentação. Há informações de que foi a vida
ascética, cheia de privações, que levou Santo Antão aos 105 anos, seu
companheiro Macário aos 110 e o eremita Paulo aos 113 anos de idade. Gladstone,
morto aos 89 anos, atribuía sua longevidade sadia ao fato de bem mastigar os
alimentos; Bismarck, ao seu banho frio diário; Tennyson, ao seu bom humor;
Moltke e Lesseps, aos exercícios físicos; Loew, aos preparados de cálcio, que
usou durante anos; Roemheld, à ginástica respiratória. E, ao lado deles,
Edison, para quem sua capacidade inventiva tinha 2 por cento de gênio e 98 de
suor, chegando a trabalhar até 20 horas por dia e dormindo sempre pouco, em
geral apenas 2 a 3 horas por noite, atribuía à atividade o segredo de sua vida,
do seu sucesso e da sua velhice, que atingiu os 82 anos. Heisler refere ter encontrado na Suécia um
velho de 94 anos extraordinariamente bem conservado, ágil, sadio, apesar de ter
sempre trabalhado ativamente, o qual atribuía sua verde velhice ao fato de
comer arenques salgados com frequência.
Referências
desse gênero são numerosas, acreditando quase sempre cada longevo ter
encontrado a fórmula graças à qual conseguiu alcançar idade avançada. Até o
abuso do cachimbo, o uso imoderado do álcool e o repouso excessivo na cama têm
sido considerados por alguns como fatores de sua grande velhice! Mas tudo isso
é concluído a posteriori, no final da
experiência, quando não é mais possível verificar o que foi útil ou
prejudicial. A frequência dos centenários na Bulgária, tal como tem sido
inúmera vezes citado, é impressionante. Em 1920, numa população de 4 milhões de
habitantes, havia aí 3.800 centenários, enquanto a Alemanha, com uma população
de mais de 60 milhões, possuía, na mesma época, apenas 200. Pois bem, na
Bulgária, são os pastores, que no verão dormem ao livre e vivem sobretudo de
leite, de coalhadas, de queijo e de alguma verdura, sendo em geral magros ou
até desnutridos, que fornecem a grande proporção de centenários, razão pela
qual Metchnikoff e outros sábios procuraram na alimentação e principalmente em
sua influência sobre a flora intestinal a explicação para tão avançadas
velhices.
Particularmente
interessante é o fato das restrições alimentares parecerem ter influência sobre
a extensão da vida, no sentido de uma deficiência de alimentação ser mais
favorável que a abastança e o excesso. Kuczynski, em observações feitas em
camponeses russos, verificou que a fome quando não mata também não prejudica e
até prolonga a vida: “Das karge Leben
bekommt prachtvoll”! É o que, aliás, tem sido observado em todas as regiões
do globo, onde com frequência são encontrados macróbios que, por assim dizer,
vivem à mercê das eventualidades, ao embate das dificuldades e vicissitudes da
vida. Muitos deles a ganham até à custa de intenso trabalho, passando às vezes
grandes privações, embora vivendo com saúde e não raro sendo até fecundos na
procriação. Um inquérito feito entre os centenários de Wurtenberg, na Alemanha,
mostrou não haver entre eles um só vegetariano e que sua maioria tivera, em vez
de contorto e abundância, antes vidas de lutas e dificuldades. Um caso muito
célebre, talvez mais pelo fato de sua autópsia ter sido feita por Harvey, é o
de Thomas Parr, um podre aldeão de Shropshire, que até aos 130 anos se entregou
a trabalhos pesados, morrendo em Londres com quase 153 anos. Idêntico é o caso
de Drakenberg, na Suécia, que viveu de 1626 até 1772, portanto 146 anos.
Drakenberg foi marinheiro até a idade de 91 anos, tendo passado 15 anos em
cativeiro em mãos de corsários africanos.
Informações
dessa natureza são encontradas em numerosas publicações, sempre acordes em
mostrar que a vida pobre, mesmo de penúria e restrições, é mais favorável para
garantir a longevidade do que a passada em conforto e abundância.
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