sábado, 30 de janeiro de 2016

A PRÁTICA DO AIKIDO

A PRÁTICA DO AIKIDO

Luiz Carlos Maciel






U
m meu amigo, que se declara karateca, sugere que eu escreva sobre minha experiência com outra arte marcial, o Aikido, criado pelo Sensei Morihei Ueshiba, um espírito superior, um grande homem.

            Enquanto todas as lutas, inclusive todas as outras artes marciais, dependem do uso da força física e, portanto, do desenvolvimento muscular, o Aikido surge como uma exceção surpreendente. Em vez do choque de forças, ele propõe a harmonia com a força do oponente, tornando absoluta a tática do judô de “usar a força do adversário contra ele próprio”. No Aikido a única força física que se manifesta é a do adversário, o aikidoísta substitui o choque de forças pela harmonia com a força do outro.

             A essência dessa arte marcial sui generis é cabalmente descrita no significado de seu próprio nome. Ela ensina o caminho (DO) da harmonia (AI) com a energia (KI). Para isso, emprega movimentos em geral circulares através dos quais o aikidoísta, em vez de confrontar o oponente, se harmoniza com a direção com que ele emprega sua energia, o que permite que, assim, ele, o aikidoísta, possa passar a dirigi-la como lhe for conveniente.

            Um amigo japonês que hoje vive em Portugal, o Kazuo, era mestre de judô e   ̶ como ele próprio se qualificava, sempre com um sorriso   ̶ “curandeiro”, porque tratava pessoas doentes com shiatsu e quiroprática. Kazuo me explicou por que não usava agulhas; mas me esqueci, foi há muitos anos. Ele tratou de mim, que estava doente, com resultados excelentes. Gostava do Aikido e me explicou que o Karatê, por exemplo, junta a energia para jogá-la em bloco contra o oponente, enquanto o Aikido faz o contrário, entra em harmonia com a energia oposta e, assim, assume o comando de sua direção.

            Pratiquei Aikido quase dez anos, a maior parte deles tendo como professor o saudoso Clóvis Melo; depois que ele morreu, ainda tomei umas aulas com o Professor Pedro Paulo. Com o Clóvis, cheguei à faixa-marrom e tive umas três oportunidades de fazer exame para faixa-preta, mas fugi de todas elas, sempre achando que não estava suficientemente preparado. Hoje fico tentado a me arrepender, mas lembro o ensinamento de Castaneda de que um guerreiro nunca se arrepende – e me seguro.

              De qualquer maneira, o princípio básico do Aikido é o mais útil de todos na vida cotidiana, ele evita sempre a briga, o confronto, pois a Paz era o grande objetivo do Sensei Ueshiba, conforme ele declarava sempre. Tento não esquecer nunca esse grande ensinamento na minha vida diária. Lembro, por exemplo, que eu discutia um projeto de telenovela com uma roteirista que não admitia críticas, era muito teimosa, brigava sempre com qualquer supervisor que fosse trabalhar com ela. Mas comigo não houve briga, trabalhamos juntos durante meses sem nenhum problema. Um dia, conversando à toa, expliquei a ela o princípio fundamental do Aikido. Ela era muito inteligente e percebeu tudo imediatamente. “Seu filho da mãe” – ela rugiu, fingindo ira mas rindo muito –  “durante esse tempo todo você lutou Aikido comigo e eu nem percebi...”


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