Viagem
ao Interior de um Caroço de Umeboshi
Cyntia Vann
O esbanjar
parece ser uma constante em nosso mundo.
Nós,
orizófagos pretensamente conscientes, decerto não nos vemos entre os
perdulários. Quanta presunção, porém! Dois exemplos bastam para desfazer esta
autoimagem.
Na
fabricação do tofu, após a extração do leite de soja, sobra-nos o farelo, cujo
destino invariável é o depósito de lixo mais próximo. Conhecido como okara, tal farelo, tradicionalmente
utilizado no preparo de farofas ou refogados com legumes e verduras, é fonte
privilegiada de proteínas, vitaminas e minerais.
Das
fundamentais umeboshis, comemos apenas as polpas, dispensando solenemente os
caroços. Como o texto que vamos ler ensina, o caroço de umeboshi, além de útil,
esconde, tal qual a concha de uma ostra, pequena mas valiosa pérola : a semente
rica em vitamina B₁₇ , substância rara em nossa alimentação, apesar de
abundante na natureza.
Jaz, enfim,
sob a aparente informação nutricional do artigo de Cyntia Vann, toda uma ética
do não desperdício.
A
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determinada conserva dá-se o nome de umeboshi
- um tradicional preparado japonês sem equivalente na parte ocidental do globo.
A fruta com a qual é elaborada chama-se prunus mume, expressão geralmente
traduzida por ameixa. Contudo, trata-se na verdade de uma espécie de damasco.
Esses damascos contêm ácido cítrico e fosfórico, os quais não são destruídos
quando da preparação da conserva. Colhidos na primavera, quando amadurecem, são
submetidos tanto à conservação no sal quanto à desidratação ao sol, processo
que já requer o calor do verão. Pela fórmula tradicional, as frutas permanecem
envelhecendo na salmoura por um ano ou mais, e só então são reservadas para
consumo.
Um milagre acontece neste longo
processo de preparação. Como o que está em jogo são fatores extremamente
expansivos (yin) e contrativos (yang), a combinação que surge é poderosíssima;
é desta combinação que provém a utilidade da umeboshi. Sua forte
acidez tem um paradoxal efeito alcalinizante em nosso organismo. Por exemplo,
duas a três umeboshis neutralizam a acidez de meia xícara de açúcar. (Para
efeito de comparação, considere-se que ¼ de xícara de kombu, 1 xícara de feijão
azuki ou 2 ½ xícaras de raiz de bardana dão também conta da reviravolta
provocada pela ingestão de meia xícara de açúcar). A umeboshi ainda reduz a
fadiga, estimula a digestão, elimina toxinas e contribui para a absorção do
cálcio.
Umeboshi contém ácido cítrico, que auxilia
na retenção de um importante mineral como o cálcio. Ela também ajuda o fígado a
processar o excesso de álcool, restaura a pele, regula o metabolismo do açúcar,
previne e cura a anemia e alivia a dor aguda do estômago e intestino. É usada
ainda como antídoto contra o envenenamento por comida e como um tranquilizante
natural. Alguns consideram uma umeboshi por dia como a melhor
medicina preventiva.
Acolhi essa recomendação e passei a
ingerir umeboshi com regularidade, sugerindo aos meus
amigos que fizessem o mesmo. Quando um deles afirmou que não seguiria meus
conselhos por medo do sal contido na umeboshi, começamos a sondar
alternativas isentas de sal. Foi então que descobrimos o extrato de umeboshi. Tal
preparado consiste numa substância aparentemente alcatroada, dez vezes mais
concentrada graças ao cozimento das frutas verdes. Ele possui 25 vezes mais
ácido cítrico do que o suco de limão, além de não apresentar sal algum, o que o
torna mais apropriado do que a conserva para quem sofre de pressão alta e
outras condições que não toleram níveis altos de sódio. Quando aplicado à pele,
o extrato cura infecções cutâneas provocadas por fungos (tinhas) e
pé-de-atleta. Ele também é usado para aliviar condições opostas, tais como diarreia
e constipação. Trata-se de alimento homeostático inigualável.
Além do uso convencional, tanto a
conserva quanto o extrato podem ser usados para fazer chás. O chá de extrato
de umeboshi é indicado nos casos de aftas, herpes labial, disenteria,
dor aguda no estômago ou intestino. Por
outro lado, deixando-se ferver por 30 min uma umeboshi em um litro de
água, obtém-se um chá extremamente eficaz para eliminar a sede após atividade
física, caminhada ou em dias muito quentes. É refrescante e ainda nos fornece
eletrólitos. Eletrólitos são muito importantes, pois uma deficiência de sódio
pode levar à baixa pressão sanguínea e mesmo à parada cardíaca.
O poder da umeboshi é deveras
conhecido. Há, porém, um componente dela completamente esquecido – a semente!
Durante anos, mais de um professor me aconselhou a guardar os caroços de umeboshi,
e assim o fiz, pensando que poderia de fato necessitar deles algum dia. Um
caroço de umeboshi assemelha-se a uma pequena bola de gude,
insignificante por si só e facílimo de perder. Um grupo de caroços requer um
pote para armazená-los, de modo que logo uma fileira de potes foi-se formando
em meu armário. “Deve existir algum modo de usá-los!”, exclamei.
Afinal encontrei uma pista numa obra
sobre remédios caseiros. Um golpe de martelo revelou uma delicada semente
escondida sob a velha e resistente casca. Decidi carbonizá-las no forno. Depois
de 8 minutos elas ficaram negras. Moí-as até que virassem pó e – bingo! – vi-me
diante de um novo remédio que nunca havia experimentado. Revendo notas de
aulas, topei com a informação de que as sementes carbonizadas são excelentes
para aliviar problemas de estômago, dores nos intestinos, diarreias,
resfriados, úlceras estomacais, câncer no intestino, náuseas, febres, tosse. Li
também que com a casca faz-se um chá indicado para anemia, leucemia e AIDS.
As cascas podem também ser
carbonizadas, o que aumenta seu poder curador nos casos de doenças mais
expansivas (yin). É verdade que demandam mais tempo para carbonizar: cerca de
30 minutos no forno. Como são difíceis de pulverizar, mesmo quando queimadas,
reserve-as para chás, não se esquecendo de retirá-las antes de beber.
É claro que experimentei em mim
mesma o poder do pó da semente carbonizada. Em certa ocasião, com o intestino
solto, resolvi ingerir uma colher de chá desse preparado em forma de beberagem
e dentro de dois dias já me sentia recuperada.
Nada impede também que comamos as
sementes sem carbonizá-las. Sabem elas a castanhas. Uma amiga que não conseguia
deixar o leito por causa de uma gripe obstinada, ligou-me para dizer que não
poderia visitar-me. Eu a aconselhei a ingerir três sementes de umeboshi.
A força que ainda lhe restava, ela empregou-a justamente em levantar da cama,
quebrar os três caroços, apoderar-se das sementes e levá-las sofregamente à
boca. No dia seguinte obtive dela uma resposta valiosa: estava surpresa com o
rápido efeito da receita, pois a sensação de peso no tórax tinha desaparecido e
sentia-se muito bem.
E justamente quando achava que já
tinha descoberto tudo, deparou-se-me uma nova informação – a semente de umeboshi
contém uma enorme quantidade de vitamina B₁₇ (laetrile, amygdalin, nitrilosides).
Talvez seja mesmo o alimento com a maior concentração desta vitamina.
A B₁₇ é encontrada na semente de
damasco, amêndoas amargas, macadâmia, trigo sarraceno e painço (nos EUA, as
árvores de amêndoas amargas estão proibidas). Ela aparece em abundância na
natureza não domesticada. Entretanto, por ser amarga, tem sido eliminada
sistematicamente, ao lado de tantas outras substâncias amargas, pela prática
humana de aperfeiçoar os sabores por seleção e cruzamento, tendo em vista
unicamente o prazer que os alimentos possam proporcionar. Pode afirmar-se como
regra geral que muitos alimentos domesticados ainda contêm vitamina B₁₇ na
parte não ingerida pelo homem moderno. É o caso, por exemplo, das sementes de
damasco.
O Dr. Elson Hass, autor de Staying
Healthy with Nutrition: The Complete Guide to Diet and Nutritional Medicine,
afirma que a ingestão de dez a vinte sementes de damasco por dia constitui boa
estratégia de prevenção às doenças. Ele ainda participa-nos que a vitamina B₁₇
é útil na pressão alta e no reumatismo. Reivindica, por fim, pesquisas mais bem
projetadas para determinar se a B₁₇ é eficaz em sua forma natural.
Há notícias de outros povos que
reconhecem o valor das sementes de damasco. Os Hunzas, por exemplo, amam seus
damascos e muito prezam seus damasqueiros. Os Hunzas são conhecidos por sua
vitalidade e longevidade. Muitos deles vivem até os 100 anos e no decorrer de
suas vidas são capazes de realizar trabalhos os mais árduos. Eles comem dúzias
de sementes de damasco por dia, ao lado de uma dieta saudável, com quantidades
desprezíveis de carne e laticínios, e de muita atividade física. O câncer é
raríssimo entre eles.
Nos EUA, o FDA alega que a B₁₇
contida nas sementes de damasco é tóxica. Ela não é uma substância aprovada e
negociá-la configura crime. Os médicos que a prescrevem são perseguidos pelo
próprio conselho profissional.
Então, qual é o futuro da B₁₇ , a
substância presente no caroço do damasco? Segundo uma reportagem da BBC
News, há uma nova terapia que mobiliza os poderes do cianeto para matar
as células do câncer de intestino. Ela se inspira no exemplo de algumas plantas
que liberam aquela substância para se protegerem do ataque dos insetos. Na
verdade, a terapia lança mão de duas drogas. A primeira colabora com uma enzima
que ataca o tumor. A outra apresenta um tipo de açúcar que reage com a enzima
liberando cianeto para matar as células cancerosas.
Isso se assemelha muito à ação da
B₁₇. De acordo com o pesquisador Ralph Moss, a B₁₇ não funciona para todos os
tipos de câncer, mas interrompe as metástases 100% das vezes. Ele explica como
isso ocorre: o câncer ama ao açúcar. O açúcar da semente do damasco envolve o
componente nitriloside. O câncer come o açúcar e o nitriloside é liberado.
As células cancerosas apresentam grandes quantidades de uma enzima que quando
encontra o nitriloside produz cianeto e benzaldeído. Ambos são venenos e
podem matar o câncer.
Não quer isso dizer que a indústria
do câncer finalmente deparou com a eficácia da B₁₇ mas recusa-se a aceitar as
provas?
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