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o opúsculo You are how you eat, lembra-nos Lino Stanchich que os animais mais
resistentes do planeta – o boi, o touro, o elefante e o búfalo – são
vegetarianos que mastigam muito bem seu alimento. Lino também, num dos momentos
mais interessantes do impresso, participa-nos como a mastigação – esta prática
intensificadora da vida – tornou-se o seu tema predileto.
Em 1943, seu
pai, feito prisioneiro na Grécia, fora transferido para um campo de
concentração na Alemanha. Era o campo contíguo a uma fábrica, onde os
prisioneiros se viam forçados a realizar duras tarefas diariamente. Os invernos
eram congelantes, enquanto escassas eram as roupas e a alimentação. Condições
tão extremas forçaram o pai de Lino, Antonio, a desenvolver uma prática
poderosa de mastigação.
A maioria
dos prisioneiros tinha por ridícula a disciplina de Antonio de mastigar cada
bocado de 100 a 200 vezes. Estava Antonio, porém, convicto de que o mastigar
diligente o energizava e aquecia. Ele conseguiu convencer dois companheiros a
participar de suas “sessões de mastigação”. Em 1945, quando os aliados chegaram
ao campo de concentração, dos 32 prisioneiros do alojamento de Antonio somente
três estavam vivos – o próprio Antonio e os dois que com ele praticavam a
mastigação cuidadosa.
Instalada a
paz, pai e filho se reencontraram, e Antonio narrou sua experiência a Lino: “Se
estiveres fraco, com frio ou doente, mastiga cada bocado 150 vezes ou mais.” O
conselho paterno ajudou o filho a enfrentar uma situação similar. Em 1949,
quando tentava fugir da Iugoslávia, Lino foi capturado e condenado a dois anos
de trabalhos forçados. Ele recorreu à técnica de mastigação de seu pai, a qual,
além de lhe propiciar energia para sobreviver às condições adversas, infundiu-lhe
coragem e confiança.
Também o pai
da macrobiótica, George Ohsawa, atribui à mastigação o milagre e ter saído vivo
dos cárceres do Japão durante a Segunda Grande Guerra. Dinamizando o alimento
por meio da mastigação, Ohsawa foi capaz de extrair o máximo da deplorável
ração oferecida pela prisão em que cumpria pena por suas atividades pacifistas
durante o conflito mundial.
Mastigação: fábrica de enzimas
Em seu
brilhante livro Chewing made easy, o
veterano educador macrobiótico Alex Jack enumera os vários benefícios da boa
mastigação. As glândulas parótidas, localizadas abaixo de cada orelha, quando
estimuladas pela mastigação, liberam ptialina, enzima solúvel em água. Também
conhecida como amilase, a ptialina alcaliniza, mineraliza e energiza os alimentos.
Ela também contribui para a correta digestão dos carboidratos complexos,
especialmente os cereais integrais.
A enzima
ptialina ativa o sistema endócrino. Ela estimula as amídalas, e estas, por sua
vez, estimulam o timo a produzir as importantíssimas células T, conhecidas por
nos protegerem contra o câncer e por aumentarem nossa imunidade a toda sorte de
doenças.
Outra enzima
produzida pelas glândulas parótidas é a parotina*, a qual ativa o metabolismo
celular e contribui para a regeneração dos órgãos e tecidos. Uma boa razão para
mastigar bem é que tal prática maximiza nosso poder de cura.
A mastigação
correta, diz-nos Alex Jack, reveste o alimento com uma saliva rica em enzimas.
Este líquido valioso protege-nos contra vírus, bactérias e outros micro-organismos
potencialmente danosos, bem como contra produtos químicos, radiações e toxinas
encontradas nos alimentos. A saliva contém propriedades antivirais e
antibactericidas que eliminam o estafilococo, o estreptococo, o HIV e outros
micróbios extremamente perigosos. Os animais instintivamente conhecem as
propriedades curativas da saliva, e lambem a si próprios quando feridos.
Mastigação e sistema circulatório
Por último,
mas não menos importante, mastigar estimula o sistema circulatório. A
mastigação atrai mais sangue para os músculos e o distribui por todo o corpo.
Daí o pai de
Lino sentir-se mais aquecido quanto mais mastigava.
*Yosoji
Ito. Parotin: a salivary
gland hormone.
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