terça-feira, 12 de março de 2013

Insetos: a iguaria perdida

 Insetos: a iguaria perdida

           
A
 maioria de nós sente repulsa só de pensar em comer insetos. Até mesmo alguns manuais de sobrevivência consideram a ingestão dessas criaturazinhas inconcebível. Porém, não obstante este preconceito declarado, cada um de nós (incluindo o mais rigoroso vegetariano) já despachou para o seu interior – sem o saber, é claro – milhões e milhões de insetos.

São os insetos, queira você ou não, uma fonte riquíssima de nutrientes. Eles contêm bastante proteína, gordura e vitaminas, incluindo a B12. Esta é uma das razões por que vários povos tradicionais ao redor do mundo se refestelam ingerindo-os. Para aqueles de nós, selvagens da dita civilização, que logram quebrar o bloqueio do condicionamento cultural, constitui uma agradável surpresa descobrir que os insetos não são apenas nutritivos, mas também saborosíssimos. Mas não saia comendo tudo o que vir pela frente – alguns são venenosos e outros alergênicos.

Apresento a seguir os que já tracei com deleite e a forma de prepará-los.

Gafanhotos e Grilos: Se você tiver a pachorra de pegá-los! Como todos os insetos com carapaça, é melhor cozinhá-los para dar cabo de qualquer parasita, e você pode desejar remover-lhes as asas e as pernas. Eu os prefiro tostados na chapa ou no espeto sobre a brasa. (Mate-os primeiro e não se espante se eles pularem mesmo após decepar-lhes a cabeça.) Eles são surpreendentemente apetitosos e carnudos, e lembram algo do sabor da pipoca. Grilos são inacreditavelmente ricos em cálcio e potássio.

Formigas e seus Ovos: Trata-se de um dos melhores insetos que já provei. As rechonchudas formigas carpinteiras constituem o filé mignon dessa espécie. Todos os ovos de formiga são comestíveis e podem ser devorados crus ou cozidos. Quando cozidos, os ovos das carpinteiras sabem como grãos; quando estrelados, sabem como ovos comuns. Ouvi dizer que os pequenos ovos de formiga apresentam, quando crus, um sabor aproximado ao do cuscuz marroquino. Mas a única vez que acolhi a sugestão julguei que centenas de formigas picavam minha língua (havia formigas vivas sobre os ovos). Quando estiver cozinhando os ovos, aproveite para cozinhar também as formigas. Não sei se seria boa ideia aplacar a fome com formigas-de-fogo. Talvez a substância que provoca a sensação de ardência seja eliminada pelo cozimento. Não sei. Se alguém já o tentou, diga-me, por favor, o resultado.

Tatuzinho de Jardim: São essas criaturas, de fato, crustáceos, e não insetos (imagino-os como camarões da terra). Podem ser tostados inteiros, e revelam, assim preparados, um sabor aproximado ao da pipoca.

Larvas de Besouro: Todas as larvas de besouro podem ser traçadas cruas, apresentando nesse caso um gosto semelhante ao de peixe. Podem ser adicionadas a sopas, guisados e refogados. Podem ainda ser tostadas, método que deixa esses petiscos carnudos, proteicos e oleaginosos com o sabor muito semelhante ao de pipoca.

Caracóis e Lesmas: Caracóis podem ser descascados (jogue-os na água fervente) e refogados com alho (selvagem ou cultivado) ou adicionados a sopas. Lesmas representam, provavelmente, o maior desafio à superação do bloqueio mental provocado pelo condicionamento cultural. Elas podem ser preparadas como os caracóis, com a diferença de que não precisam ser descascadas.

Minhocas: Esses seres subterrâneos constituem uma fonte de minerais e micro-organismos que o veganismo moderno simplesmente nem sonha em nos poder fornecer. Podem ser comidos vivos, em guisados ou secos ao sol sobre uma pedra quente. Depois de desidratados, há a possibilidade de moê-los e transformá-los numa farinha extraordinariamente nutritiva, a qual pode ser usada para engrossar uma sopa ou misturada a outras farinhas para fabricar chapatis, outros pães e bolos.


                               

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