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maioria de nós sente repulsa só de pensar em
comer insetos. Até mesmo alguns manuais de sobrevivência consideram a ingestão
dessas criaturazinhas inconcebível. Porém, não obstante este preconceito
declarado, cada um de nós (incluindo o mais rigoroso vegetariano) já despachou
para o seu interior – sem o saber, é claro – milhões e milhões de insetos.
São os insetos, queira você
ou não, uma fonte riquíssima de nutrientes. Eles contêm bastante proteína,
gordura e vitaminas, incluindo a B12. Esta é uma das razões por que vários
povos tradicionais ao redor do mundo se refestelam ingerindo-os. Para aqueles
de nós, selvagens da dita civilização, que logram quebrar o bloqueio do
condicionamento cultural, constitui uma agradável surpresa descobrir que os
insetos não são apenas nutritivos, mas também saborosíssimos. Mas não saia
comendo tudo o que vir pela frente – alguns são venenosos e outros alergênicos.
Apresento a seguir os que já
tracei com deleite e a forma de prepará-los.
Gafanhotos
e Grilos: Se você tiver a pachorra de pegá-los! Como todos os
insetos com carapaça, é melhor cozinhá-los para dar cabo de qualquer parasita,
e você pode desejar remover-lhes as asas e as pernas. Eu os prefiro tostados na
chapa ou no espeto sobre a brasa. (Mate-os primeiro e não se espante se eles
pularem mesmo após decepar-lhes a cabeça.) Eles são surpreendentemente
apetitosos e carnudos, e lembram algo do sabor da pipoca. Grilos são
inacreditavelmente ricos em cálcio e potássio.
Formigas
e seus Ovos: Trata-se de um dos melhores insetos que já
provei. As rechonchudas formigas carpinteiras constituem o filé mignon dessa
espécie. Todos os ovos de formiga são comestíveis e podem ser devorados crus ou
cozidos. Quando cozidos, os ovos das carpinteiras sabem como grãos; quando
estrelados, sabem como ovos comuns. Ouvi dizer que os pequenos ovos de formiga
apresentam, quando crus, um sabor aproximado ao do cuscuz marroquino. Mas a
única vez que acolhi a sugestão julguei que centenas de formigas picavam minha
língua (havia formigas vivas sobre os ovos). Quando estiver cozinhando os ovos,
aproveite para cozinhar também as formigas. Não sei se seria boa ideia aplacar
a fome com formigas-de-fogo. Talvez a substância que provoca a sensação de
ardência seja eliminada pelo cozimento. Não sei. Se alguém já o tentou,
diga-me, por favor, o resultado.
Tatuzinho
de Jardim: São essas criaturas, de fato, crustáceos, e não insetos
(imagino-os como camarões da terra). Podem ser tostados inteiros, e revelam,
assim preparados, um sabor aproximado ao da pipoca.
Larvas
de Besouro: Todas as larvas de besouro podem ser
traçadas cruas, apresentando nesse caso um gosto semelhante ao de peixe. Podem
ser adicionadas a sopas, guisados e refogados. Podem ainda ser tostadas, método
que deixa esses petiscos carnudos, proteicos e oleaginosos com o sabor muito
semelhante ao de pipoca.
Caracóis
e Lesmas: Caracóis podem ser descascados (jogue-os na água
fervente) e refogados com alho (selvagem ou cultivado) ou adicionados a sopas. Lesmas
representam, provavelmente, o maior desafio à superação do bloqueio mental
provocado pelo condicionamento cultural. Elas podem ser preparadas como os
caracóis, com a diferença de que não precisam ser descascadas.
Minhocas:
Esses seres subterrâneos constituem uma fonte de minerais e micro-organismos
que o veganismo moderno simplesmente nem sonha em nos poder fornecer. Podem ser
comidos vivos, em guisados ou secos ao sol sobre uma pedra quente. Depois de
desidratados, há a possibilidade de moê-los e transformá-los numa farinha
extraordinariamente nutritiva, a qual pode ser usada para engrossar uma sopa ou
misturada a outras farinhas para fabricar chapatis, outros pães e bolos.
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