sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Os “Esquecimentos” da Ciência


Os “Esquecimentos” da Ciência
Vandana Shiva
À
 medida que a biologia molecular se torna a fonte principal de técnicas para a indústria da biotecnologia, outras disciplinas da biologia definham e morrem. Estamos à beira de perder nossa habilidade de distinguir uma planta ou animal de outro e de esquecer como as espécies conhecidas interagem entre si e com seu meio ambiente.
As minhocas, por exemplo, estão entre as espécies cruciais para nossa sobrevivência. A agricultura depende da fertilidade do solo, e a fertilidade do solo depende enormemente das minhocas. Elas melhoram a fertilidade da terra depositando nela matéria fecal e aumentando sua permeabilidade ao ar e à água.
Em 1891, Charles Darwin publicou seu último trabalho, resultante de um estudo de uma vida inteira sobre minhocas, onde escreveu:
É possível duvidar de que existam muitos outros animais que tenham desempenhado um papel tão importante na história do mundo como o destas criaturas de organização inferior.
No entanto, conforme relata David Ehrenfeld, as pessoas treinadas em ecologia de minhocas estão desaparecendo:
No momento em que escrevo isto, existe apenas um único cientista trabalhando ativamente e familiarizado com a taxionomia das minhocas na América do Norte. Não existem mais estudantes de pós-graduação em taxionomia de minhocas nos Estados Unidos e Canadá. Cinquenta anos atrás, pelo menos cinco cientistas americanos, mais seus estudantes, trabalhavam nesse campo.
O exemplo das minhocas não é atípico. Quanto mais avanços fazemos, mais esquecemos. De que serve nossa tecnologia dispendiosa em um mar de ignorância?
Tão logo as prioridades se deslocam da necessidade social para o retorno potencial de um investimento, que é o principal critério de uma pesquisa comercialmente orientada, vertentes inteiras de conhecimento e aprendizado são esquecidas e entram em extinção. Embora esses diversos campos possam não ser comercialmente lucrativos, eles são socialmente necessários.  Como uma sociedade que enfrenta problemas ecológicos, precisamos de epidemiologia, de ecologia e de biologia evolutiva e do desenvolvimento. Precisamos de especialistas em determinados grupos taxionômicos, como micróbios, insetos e plantas, para responder à crise de erosão da biodiversidade. No momento em que ignoramos o útil e o necessário, e nos concentramos apenas no lucrativo, estamos destruindo as condições sociais para a criação da diversidade intelectual.

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