Sagen Ishizuka:
A Potência Transformadora do Alimento
(Parte sexta)
Ronald Kotzsch
A teoria de Ishizuka
fundamenta-se em conceitos bastante simples. Em primeiro ligar, afirma que a
saúde e a longevidade humanas dependem do equilíbrio, no corpo, entre os sais
de sódio e potássio. Enquanto a teoria nutricional do Ocidente (tanto a daquela
época quanto a de hoje) enfatizava as proteínas e os carboidratos, Ishizuka
insistia na importância crucial dos minerais, em especial do sódio e potássio.
A proporção entre eles determina a habilidade do corpo de absorver e utilizar
outros nutrientes. De que o sódio e o potássio estejam em franca harmonia
depende o funcionamento adequado de todo o organismo humano.
O segundo princípio
sustenta que é o alimento o fator mais importante na determinação deste
equilíbrio fundamental. Outros fatores, tais como a geografia, o clima e a
frequência da atividade física, também desempenham o seu papel. Viver no
litoral ou nas montanhas, num clima seco ou úmido, ser sedentário ou
trabalhador braçal, todas essas variantes produzem um efeito. Mas aquilo que
ingerimos é que vai fundamentalmente determinar a taxa de sódio e potássio no
corpo.
Por conseguinte, e em
terceiro lugar, a saúde e a doença humanas são, sobretudo, efeitos da dieta. A
base do bem-estar físico é o alimento diário que fornece o equilíbrio adequado
de minerais. Tal dieta proporcionará uma vida longa e livre de doenças. Por
outro lado, toda doença se origina no desequilíbrio entre sódio e potássio
causado por uma dieta inapropriada. Tanto as doenças contagiosas quanto as
degenerativas, garante Ishizuka, têm origem no alimento. Bactérias e vírus
afligem somente aqueles que se encontram debilitados e suscetíveis à doença por
causa de seu desequilíbrio Na/K. Uma pessoa verdadeiramente saudável, ainda que
em contato com patógenos, não cairá doente. A medicina alopática, portanto,
objetivando apenas destruir o micro-organismo – em vez de fortalecer o
indivíduo contra ele – baseia-se numa visão totalmente equivocada da realidade.
Tendo estabelecido que a
saúde e a longevidade baseiam-se na alimentação, Ishizuka interroga-se sobre
qual seria a dieta mais apropriada para os seres humanos. O que deveríamos
ingerir a fim de manter o equilíbrio ideal entre os minerais? Para responder a
esta questão, Ishizuka procede a uma análise da fisiologia humana, da ecologia
e da história.
Ao selecionar seus
alimentos, deveria o homem considerar, antes de qualquer coisa, sua estrutura
fisiológica. Tanto a dentição quanto o sistema digestivo humanos indicam que,
por natureza, é o homem um granívoro, ou seja, um ser que se nutre de grãos de cereais.
Dos 32 dentes dispostos em sua boca, 4 são caninos pontiagudos, adequados para
rasgar a carne; 8 são incisivos, próprios para cortar vegetais e frutas; e os
5/8 restantes, chamados molares, destinam-se a triturar grãos. A estrutura
dentária do homem demonstra aproximadamente a porcentagem de cada tipo de
alimento na dieta que cumpriria a ele adotar. Além disso, o ser humano é
provido de um estômago pequeno e de um longo e retorcido tubo intestinal,
enquanto os animais carnívoros apresentam estômagos grandes e intestinos
curtos. O sistema digestivo humano é, portanto, especialmente estruturado para
lidar com vegetais, dos quais os mais compactos e nutritivos são os cereais em
grãos.
O ambiente em que vive o
homem também importa ser considerado. De acordo com Ishizuka, consiste o homem,
sobretudo, num produto de seu meio natural. Determinado ambiente fornece os
alimentos que permitirão ao organismo humano funcionar satisfatória e
saudavelmente naquela região e clima particulares. Deveria o homem, portanto,
ingerir alimentos que crescem natural e abundantemente no espaço em que ele se
fixou. Esses frutos da terra proveem o equilíbrio adequado de nutrientes,
especialmente a proporção ideal de Na e K. Segundo Ishizuka, exceto nas regiões
árticas e tropicais, o alimento mais abundante e fácil de cultivar são os
cereais. A espécie pode variar de região para região; mas, em geral, conviria serem
os cereais o alimento principal num clima temperado. Contêm eles,
aproximadamente, a relação 3:7 de sódio e potássio, considerada por Ishizuka a
ideal para a saúde humana. Os grãos integrais, que conservam a proporção
natural de minerais e outros nutrientes, deveriam compor de 60 a 70% da dieta
diária.
Ishizuka ainda
argumentava a favor de uma dieta baseada em cereais do ponto de vista da
história. Toda civilização importante adotou algum grão como alimento
principal. No Japão e no Sul da China constituiu o arroz o cereal dominante; no
Norte da China, este lugar coube ao painço e ao trigo; nas Américas, ao milho;
na Europa do Norte, à cevada e ao centeio. O sentimento geral de dependência para
com esse alimento básico é tão forte nos variados povos, que cada grão em
particular foi por eles deificado e venerado.
Ishizuka sustenta, pois,
que é o homem, por natureza, um comedor de cereais, e que para os habitantes
das regiões temperadas não há melhor alimento que os grãos inteiros.
Leguminosas, vegetais, sementes, nozes, algas marinhas, peixes, carne de caça e
outros produtos regionais deveriam suplementar os cereais. Convém que tais
suplementos sejam ingeridos, tanto quanto possível, frescos e na estação
propícia. A sábia Natureza providencia ao homem o alimento perfeito para cada
estação. Destarte, nos meses de calor, o homem deve ingerir vegetais e frutas
da época. No inverno, deve ele contar com alimentos que se preservam facilmente
durante um longo período (feijões, algas marinhas, peixes secos) e com frutas
desidratadas e vegetais em conserva. O nabo comprido japonês, embora não
medrando no inverno rigoroso, quando conservado em sal e farelo de arroz,
ajuda-nos a enfrentar as temperaturas muito baixas.
Se para Ishizuka a
escolha apropriada dos alimentos constitui o fundamento da boa saúde, a
preparação dos mesmos não é menos importante. O uso do calor, água, sal e
temperos na cozinha, e a combinação dos vários alimentos afetam o equilíbrio
Na/K da refeição e, portanto, a condição daquele que a consome. Mesmo os
alimentos indicados – grãos e vegetais da estação – podem provocar doenças
quando mal preparados. Por outro lado, alimentos desaconselhados, tais como
carne (Na em excesso) e berinjela (K em excesso), quando sabiamente preparados,
podem tornar-se inócuos. Ishizuka chama a atenção para o fato de que receitas
tradicionais, como carne cozida com gengibre e cebola ou berinjela cozida com
missô, refletem um conhecimento, ainda que intuitivo, deste princípio.
A ideia de que é o
alimento a causa principal das enfermidades sugere que ele seja também agente
de cura. Se determinada dieta leva ao desequilíbrio dos minerais, ao qual se
segue a doença, outra dieta pode reinstalar o equilíbrio. De fato, asseverava
Ishizuka que o alimento deve ser a base de toda cura verdadeira. Com o alimento
selecionado e preparado de acordo com as necessidades de cada doente, quaisquer
enfermidades podem, em princípio, ser curadas.
Entretanto, as
recomendações de Ishizuka não se restringem à dieta. Ele reconhece o papel
complementar dos banhos e exercícios na cura. Exercícios que levam à
transpiração provocam a descarga de excesso de sais e estimulam a circulação e
digestão. Banhos quentes revelam um efeito semelhante, removendo minerais e
instaurando o equilíbrio. Ambos os livros de Ishizuka incluem largas discussões
sobre variados tipos de banhos (no vapor, com pedras quentes, turco, etc.) e
prescrições para seu uso em diferentes transtornos.
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