A
Origem de Todas as Doenças
Carl Ferré
C
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erta vez, um homem muito rico chamou Herman Aihara* à sua
residência. Recebera o ricaço, havia alguns anos, orientações dietéticas do
discípulo de Ohsawa. Coube a mim levar Herman ao encontro.
Logo que chegamos, fomos convidados pelo
anfitrião a explorar sua mansão de milhões de dólares e a visitar uma de suas casas
noturnas na região mais valorizada da cidade.
Depois do
passeio, o homem, enfim, dirigindo-se a Herman, desabafou:
- Mesmo
seguindo estritamente suas recomendações, não obtive melhoras. Você advertiu
que eu estava comendo demais. Reduzi, então, a quantidade de alimentos.
Contratei ainda o melhor cozinheiro macrobiótico que o dinheiro pode comprar.
Não observei, porém, resultado algum.
Herman
respondeu-lhe:
- Desculpe-me
por não me fazer entender. Eu quis dizer que você está acumulando muita coisa.
A dieta é só uma pequena parte da cura. Venha, olhe-se no espelho. Você pode
ver a carga pesada vergando seus ombros.
- De fato,
contratei o melhor massoterapeuta da região e recebo massagem diariamente para
aliviar esta tensão em meus ombros, confidenciou-nos o milionário.
- Mas tratamentos sintomáticos não chegam à
raiz dos problemas, lembrou Herman.
- Oh, você está querendo dizer que eu tenho
coisas demais e que devo doá-las. Pois saiba que trabalhei duro para
consegui-las, e não estou disposto a me desfazer delas assim, sem mais nem
menos, disparou sem muito pensar o ricaço.
- Você é
feliz? encurralou-o Herman.
- Muito feliz. Tenho tudo que quero, menos
saúde – e é por isso que estou gastando uma fortuna com você!
- Sua saúde e
sua felicidade são responsabilidade sua, replicou com firmeza Herman. Você só
precisa pagar pelas sugestões que considera úteis. Tudo o que posso dizer é que
você está acumulando muitas coisas, e isso cria um bloqueio. Você teme que
alguém possa roubá-lo. Você se preocupa o tempo todo com isso. É esta a razão
por que vive instalando sistemas de segurança aqui e em suas casas noturnas. A
raiz de seus problemas é o acúmulo de bens.
Nessa
altura da conversa, o milionário pediu a Herman que caminhassem a sós. Herman
jamais me contou sobre o que conversaram; mas até hoje acho que o bloqueio que
aquele homem criou para si próprio era tão poderoso, que a ideia de desapego
tinha pouca chance de medrar em sua alma.
Em
contraposição a essa história, narro-lhes outra, que aconteceu muito anos
atrás.
Um dia,
Herman pediu-me que convidasse um seu conhecido para o nosso encontro anual:
- Convide-o, ele é a pessoa mais pobre
que conheço.
Dias
depois, perguntando-me Herman se eu havia convidado o sujeito, respondi:
-
Sim, mas ele ficou vinte minutos ao telefone contando prosa.
- É,
ele é um sujeito muito pobre, insistiu Herman.
- Se
contar prosa durante vinte minutos é sinal de pobreza, já não sei o que
significa ser pobre, argumentei.
-
Espere até ele chegar: verá com seus próprios olhos, vaticinou Herman.
Quando o “pobretão” apareceu, a primeira coisa que fez foi presentear a
Herman com uma vara de pescar tinindo de nova. Imediatamente compreendi o que
levava Herman a considerá-lo pobre. Segundo Herman, podre é o homem que está
sempre dando ou dividindo o que recebeu.
Quando damos mais do que recebemos, conectamo-nos com o mistério (Deus).
Quando retemos mais do que necessitamos, afastamo-nos dele. E este afastamento
é a raiz de todas as doenças.
O homem da segunda história era
saudável e feliz.
O
da primeira, doente e infeliz.
*Terminada
a Segunda Grande Guerra, com o suicídio da mulher, e à beira da loucura, Herman
Aihara encontra refrigério para a alma nos ensinamentos de George Ohsawa, os
quais, naquela quadra do século passado, enfatizam, não a dietoterapia, mas o
desapego e a dissolução do ego.
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