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todos os interessados em nutrição já se defrontaram, nos últimos anos, com
notícias sobre a deficiência de vitamina D que atinge a população mundial.
Parte dessa deficiência está relacionada ao nosso estilo de vida contemporâneo
de trabalhar e viver dentro de fábricas, repartições e escritórios durante a
maior parte do dia e de aplicar protetor solar todas as vezes que há exposição
ao sol por mais de poucos minutos. Fruto de uma equivocada interpretação da
ciência, muitas pessoas hoje se sentem ameaçadas por um mísero raio de sol:
pensam que a radiação solar as envelhecerá prematuramente e as tornará
propensas ao câncer de pele. Desafortunadamente, com a falta de
vitamina D em nosso sistema, um bom número de funções do nosso corpo diminui.
Os ossos tornam-se mais fracos, e mesmo as atividades do RNA relacionadas à
renovação celular ficam comprometidas. Sem renovação celular saudável, nós
degeneramos muito mais rápido, e o câncer e as doenças autoimunes surgem no
nosso horizonte como uma possibilidade.
Uma das soluções
fáceis e rápidas da ciência para o dilema da vitamina D consiste na ingestão de
suplementos. Há várias formas disponíveis de suplementos, sendo as mais comuns
as que fornecem vitamina D2 e vitamina D3. Muitas
reportagens assinalam que a vitamina D2 é perigosa e recomendam
somente a vitamina D3. Algumas pesquisas mais recentes, porém,
sugerem que a vitamina D3 também apresenta problemas. Estudos bem
conduzidos, por exemplo, indicam que a ingestão de vitamina D3 em
doses diárias superiores a 2.000 IU (recomendações de 4.000 a 5.000 IU são hoje
extremamente comuns) pode resultar em excesso de cálcio no sangue, condição
que, por sua vez, provoca calcificação dos tecidos moles tanto quanto perda
óssea. E a calcificação dos tecidos moles é deveras conhecida na prática médica
por causar doenças vasculares, tais como engrossamento e endurecimento das
artérias; além disso, sabe-se que o excesso de cálcio contribui para o
surgimento de doenças degenerativas, dentre as quais o câncer, o diabetes e a
artrite – enfermidades de que nos protege, aliás, a vitamina D advinda da
exposição da pele aos raios de sol.
Nós podemos aprender
algo sobre os riscos da vitamina D dirigindo nossa atenção para outro nutriente
também solúvel em gordura – a vitamina A. Por estarem as vitaminas A e D
relacionadas, proveitoso é conhecer os riscos que a vitamina A comporta. Basta
a ingestão de uma quantidade ligeiramente excessiva de suplementos de vitamina
A/retinol para que vários danos ao fígado comecem a se manifestar. Ademais, a
expectativa de vida tende a despencar com a suplementação prolongada de
vitamina A. Por outro lado, a vitamina A disponível em vegetais verdes e
amarelos (provitamina A), assim com aquela fornecida por alimentos de origem
animal, é quase sempre segura e, de fato, altamente desejável. Contudo, fonte
de vitamina D, o óleo de fígado de bacalhau hoje disponível contém geralmente
muito mais vitamina A do que vitamina D – e um excesso de vitamina A perturba a
função da vitamina D no organismo. Daí a atual recomendação de numerosas
autoridades da área de saúde para evitar o óleo de fígado de bacalhau. O óleo
de fígado de bacalhau dispensado aos
infantes das gerações de outrora continha muito mais vitamina D.
À semelhança da
vitamina A, serão os suplementos de vitamina D – mesmo quando usados em
quantidades diárias inferiores a 2.000 IU – desaconselhados pela ciência futura
por reduzirem a expectativa de vida? Nós simplesmente não o sabemos. Entretanto,
estudos sugerem que a ingestão regular de suplementos com doses moderadas de
vitamina D, de 400 a 600 IU diariamente, parece resultar em benefícios à nossa
saúde, enquanto pouco ou nenhum efeito colateral produz. Tudo indica, portanto,
que dosagens de 400 ou 500 IU são seguras para prevenção e manutenção da saúde
daqueles que não podem obter a quantidade suficiente de vitamina D pela
exposição ao sol.
Importa considerar
ainda as diferentes formas de vitamina D. É notório que todas elas funcionam de
maneira única, sem paralelo, mas as cápsulas, tabletes, líquidos e sprays de que nos utilizamos não
apresentam, nem de longe, a ação inacreditavelmente complexa da vitamina D
resultante da interação do sol com a nossa pele. Um nutriente isolado jamais
funciona à maneira de outro presente num contexto natural, como a luz do sol e
alimentos integrais. Qualquer nutriente isolado (incluindo fármacos e alimentos
refinados) rouba do organismo cofatores imprescindíveis à completa metabolização
dele próprio. Logo, deveríamos ser cautelosos ao ingerir não só suplementos de
vitamina D, mas também qualquer outro nutriente isolado por um longo período.
Em minha opinião,
lançar mão de substâncias isoladas, incluindo medicamentos, deveria ser um processo
muito bem observado, aplicado somente em momentos de crise e deixado para trás
logo que métodos mais seguros e naturais possam garantir uma condição saudável
mais duradoura. O uso prolongado de fármacos, medicamentos ou mesmo nutrientes
isolados leva a profundas deficiências. Aqueles que optam por uma considerável
suplementação de vitamina D3 (por exemplo, 10.000 IU diariamente por
8 meses ou mais para dar conta de uma deficiência severa) deveriam ser
examinados a cada 12 semanas por um médico, tendo em vista os possíveis
desequilíbrios de cálcio e fósforo no sangue e desequilíbrios relacionados ao hormônio
da paratireoide. Se você optar pela luz do sol, esses problemas raramente
surgem. Ninguém é capaz de obter, por intermédio da exposição ao sol, mais
vitamina D do que o necessário: os próprios raios de sol se encarregam de
destruir o excesso de vitamina D assim que o nível ideal é alcançado.
De que forma podemos
manter a quantidade suficiente de vitamina D sem suplementação? A maneira ideal
é expor ao sol, por aproximadamente 15 minutos todos os dias, ao menos as mãos
e a face, regiões do corpo onde está localizada a maior parte dos receptores de
vitamina D. Expor braços, pernas e outras partes do corpo durante estações mais
quentes ajuda-nos a armazenar vitamina D nas células por vários meses. Protetor
solar ou, melhor ainda, roupas claras podem ser utilizados muito antes de a
pele ser prejudicada. Encontram-se disponíveis hoje lâmpadas que emitem
radiação ultravioleta B com o objetivo de produzir vitamina D confiável e
segura – ainda que a exposição a tais lâmpadas deva ser monitorada, assim como os
banhos de sol. Raios solares filtrados pelas nuvens também são eficazes, embora
menos do que a luz direta do sol. (Saliente-se, no entanto, que nenhuma
vitamina D é obtida dos raios de sol filtrados pelas vidraças.)
Assim,
a questão da vitamina D é resolvida simplesmente com o permanecer fora de casa
ou escritório durante o dia e por um período relativamente pequeno. Jardinagem,
piqueniques, caminhadas, andar de bicicleta, nadar no mar, a tradicional
prática ao ar livre de Qi Gong... há, como se vê, muitos caminhos que nos levam
ao contato benéfico com o ambiente natural. Nós recebemos a valiosa energia
vital (Qi, para a tradição chinesa) do ar fresco, dos vegetais, da terra, dos
astros, incluindo o sol, que nos garante a segura e adequada vitamina D.
Quando deixamos
prédios e carros e ingressamos em arrabaldes primitivos, puros e intactos, nós
nos permitimos abraçar a dimensão unificada, não linear e não digital da
Natureza. As cores vivas e impactantes das flores e plantas, seus aromas, a luz
irradiada, a paisagem, o som do vento, dos pássaros, das folhas balançando, da
chuva caindo, das ondas do mar morrendo na praia... tudo na Natureza é capaz de
transmitir energia curativa a nossas mentes, emoções e corpos. Se nos tornássemos
conscientes do Infinito na Natureza, certamente a respeitaríamos e desejaríamos
fundir-nos com ela. Em vez de encararmos a exposição ao sol como uma tarefa
obrigatória para obter vitamina D suficiente, deveríamos ficar contentes com a
oportunidade de permanecer ao ar livre, pois ela nos permite apreciar a
Natureza e receber seus benefícios ilimitados.
Uma abordagem
complementar sobre a questão da vitamina D envolve aquela que o pioneiro
Bernard Jensen chama “reserva de luz do sol”. Trata-se, naturalmente, da
clorofila, substância produzida pela incidência dos raios de sol nas plantas e
que lhes transmite a tonalidade verde. O Dr. Jensen recomendava aos
convalescentes e a outras pessoas impedidas de tomar sol, a ingestão de
bastantes folhas verdes. Entre essas, encontram-se as valiosas rúcula,
salsinha, couve, mostarda, repolho, brócolis, dente-de-leão e outras mais. Pode
a clorofila substituir completamente a luz do sol? Absolutamente não!
Entretanto, a clorofila mimetiza a vitamina D proveniente da exposição ao sol:
ela direciona o cálcio para os ossos, garantindo-lhes a inteireza desejável;
ela auxilia na renovação celular, já que os alimentos que a contém apresentam
“fatores reguladores do crescimento”, os quais concorrem para a diferenciação, desenvolvimento
e crescimento adequados das células. O padrão celular saudável contrasta com o
crescimento descontrolado, indiferenciado e maligno do câncer. Por isso, as
fontes mais ricas de clorofila, como a grama de cevada e a clorela, são
frequentemente usadas em terapias nutricionais contra o câncer. Assim como a
vitamina D - que, por sua atuação nos genes, age contra dores, inflamações e
depressão -, os alimentos ricos em clorofila também apresentam essa mesma
característica, embora seu mecanismo fisiológico não seja ainda conhecido.
*Paul Pitchford é autor do volume Healing with Whole Foods: Asian Traditions and Modern Nutrition.
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