Só o corpo tem a capacidade de curar-se
Dr. Hiromi Shinya*
uando a Segunda Guerra terminou, eu era adolescente
e assisti à transformação que a tecnologia norte-americana promoveu em minha
terra natal. Meu sonho era estudar medicina na América. Em 1963, concluí meu
curso de medicina no Japão e mudei-me para os Estados Unidos com minha jovem
esposa para iniciar meu curso de residência médica no Beth Israel Medical
Center de Nova York.
Vindo de um país estrangeiro, ao chegar aos Estados
Unidos compreendi que teria de trabalhar muito para ser um cirurgião respeitado
naquele país. Quando criança eu estudara artes marciais e graças a esse
treinamento aprendi a usar muito bem as duas mãos. A ambidestria me
possibilitou realizar cirurgias com rara eficiência.
Durante o curso de residência fui assistente do dr.
Leon Ginsburg, um dos descobridores (juntamente com o dr. Burrill Bernard Crohn
e o dr. Gordon Oppenheimer) da doença de Crohn. Um dia o chefe dos residentes e
o residente mais antigo que normalmente assistiam o dr. Ginsburg não puderam
ajudar na sala de cirurgia, e a enfermeira do dr. Ginsburg, que já conhecia meu trabalho, recomendou-me. Sendo ambidestro,
terminei a cirurgia rapidamente. Primeiro, o dr. Ginsburg ficou muito irritado
porque não acreditou que eu pudesse ter terminado em tão pouco tempo e ter
feito tudo certo. Mas, ao verificar que o paciente tinha se recuperado tão bem
sem a hemorragia excessiva e sem o inchaço que costumam ocorrer depois de uma cirurgia
longa, ele ficou impressionado. Comecei a trabalhar com ele regularmente.
Nem minha esposa, nem eu, nem nossa filhinha nos
dávamos bem nos Estados Unidos. Minha esposa passava a maior parte do tempo
doente. Fraca, ela não conseguia amamentar, e nossa filha era alimentada com
leite de vaca. Eu trabalhava o dia todo no hospital e, quando chegava em casa,
ajudava minha esposa que estava novamente grávida. Eu trocava fraldas e dava
mamadeiras à minha filha, mas a pequena chorava muito porque tinha uma
urticária muito intensa. Ela coçava-se muito e estava num estado lastimável.
Aí, então, nasceu meu filho. Sua chegada foi uma
alegria, mas logo surgiu uma hemorragia retal. Naquela época, eu tinha
adquirido o primeiro colonoscópio e examinei meu filhinho. Encontrei uma
inflamação no cólon e uma colite ulcerativa. Fiquei arrasado. Ali estava eu, um
médico que não conseguia curar sua jovem e bonita esposa nem aliviar o
sofrimento de seus filhos. Eu não aprendera nada na faculdade de medicina que
pudesse explicar a causa da doença deles. Consultei outros médicos, os melhores
que eu conhecia, mas nenhum conseguia me ajudar. Ser um bom cirurgião ou dar
remédios para os sintomas não era o suficiente. Eu queria saber o que causava a
doença
No Japão, eu nunca tinha visto o tipo de dermatite
atrófica que minha filha tinha, por isso, comecei a investigar o que havia nos
Estados Unidos que pudesse causar esses sintomas. No Japão nós não tínhamos
muitos derivados do leite; portanto, pensei que pudesse ser o leite de vaca que
ela mamava. Quando retiramos o leite, ela melhorou rapidamente e eu percebi que
ela era alérgica a leite de vaca. Ela não conseguia digeri-lo, e as partículas
não digeridas, que eram pequenas o suficiente para passar do intestino para o
sangue, eram atacadas pelo seu sistema imunológico como se fossem invasores. A
mesma coisa acontecia com meu filho. Quando paramos de alimentá-lo com leite, a
colite desapareceu.
A doença de minha esposa logo foi diagnosticada
como lúpus. Os valores de seu hemograma caíam, e ela ficava pálida e anêmica.
Ela entrava e saía do hospital enquanto lutávamos para salvar-lhe a vida.
Morreu antes que eu soubesse o suficiente para ajudá-la.
Até hoje, eu ainda não sei o que causou o seu
lúpus, mas sei que ela era geneticamente predisposta a reações exageradas do
sistema imunológico. Ela foi interna de uma escola-convento ocidentalizada no
Japão e consumia muito leite. Não há dúvidas de que era alérgica a leite, pois
mais tarde seus dois filhos também se mostraram alérgicos aos laticínios.
Exposta continuamente a um alimento que gerava uma reação alérgica, seu sistema
imunológico deve ter se esgotado, deixando-a suscetível à doença autoimune do
lúpus.
Com essas experiências, comecei a compreender o
quanto a alimentação é importante para nossa saúde. Isso foi há mais de cinquenta
anos, e depois disso registrei a história alimentar e examinei o estômago e o
cólon de mais de 300 mil pacientes. Passei minha vida tentando compreender o
organismo humano, a saúde e a doença. Comecei pela doença – suas causas e
tratamentos –, mas, assim que comecei a compreender melhor o trabalho do corpo
como um todo, mudei minha maneira de tratar as doenças.
Vi que nós, médicos, e nossos pacientes devemos
empregar mais tempo na compreensão da saúde do que na luta com a doença.
Nascemos com o direito à saúde; é natural ser
saudável. Depois de começar a compreender a saúde, fui capaz de trabalhar com o
corpo, ajudando-o a livrar-se sozinho da doença. Apenas o corpo tem a
capacidade de curar-se. Como médico, crio um meio para que a cura aconteça.
Assim, comecei tentando compreender a doença, mas
minha pesquisa acabou me levando para o que eu acreditava ser a chave da saúde.
Essa chave é a enzima milagrosa do nosso próprio organismo.
O organismo humano tem mais de 5 mil enzimas que
geram, talvez, 25 mil reações diferentes. Pode-se dizer que toda ação do
organismo é controlada por enzimas; porém, sabemos muito pouco sobre elas.
Acredito que criamos essas enzimas a partir de uma enzima-fonte, que é mais ou
menos finita em nosso corpo. Se essas enzimas-fonte se esgotarem, não haverá um
número suficiente delas para reparar as células de maneira adequada, o que, com
o tempo, possibilitará o desenvolvimento de câncer e outras doenças
degenerativas.
Em suma, esse é o fator enzimático.
Quando ajudo meus pacientes com câncer de cólon a
se curarem, primeiramente removo o câncer e depois os coloco em uma dieta
rígida de alimentos não tóxicos e ricos em enzimas e água, para que eles tenham
mais enzimas-fonte para reparar as células do organismo. Não acredito no uso de
medicamentos fortes que desafiam o sistema imunológico, pois acho que o câncer
de cólon não acontece por acidente, de maneira isolada. O câncer de cólon é um
alerta de que todo o suprimento de enzima-fonte está se esgotando.
Ao mesmo tempo que acredito que nascemos com um
suprimento limitado dessa enzima-fonte e que não devemos gastá-lo com má
alimentação, toxinas, eliminação deficiente e estresse, compreendi outra coisa.
Essa outra coisa é o motivo pelo qual chamo essa enzima-fonte de enzima
“milagrosa”. Tenho testemunhado várias curas espontâneas e remissões de todos
os tipos de doença. Ao estudar essas curas, comecei a compreender como esses
milagres acontecem.
Descobrimos o DNA, mas não sabemos realmente muita
coisa sobre ele. Há um enorme potencial latente em nosso DNA que ainda não
compreendemos. Minha pesquisa indica que explosões emocionais positivas, como
as que surgem do amor, da risada, e da alegria, podem estimular nosso DNA a
produzir uma enxurrada de enzimas-fonte – a enzima milagrosa que age como
biocatalizador da recuperação das células. Alegria e amor podem acordar um
potencial muito além do conhecimento humano atual.
Neste livro, direi a você o que fazer no dia a dia,
o que comer e que suplementos e enzimas tomar para ajudar suas enzimas
milagrosas e sua saúde. Entretanto, a coisa mais importante que posso lhe dizer
para viver uma vida longa e saudável é fazer o que o deixa feliz (mesmo que
isso signifique não seguir, às vezes, minhas outras recomendações).
Ouça música. Faça amor. Divirta-se. Curta os
pequenos prazeres. Viva a vida com paixão. Lembre-se de que uma vida feliz e
cheia de significados é o caminho natural para a saúde. O entusiasmo, e não a
perfeita adesão ao regime alimentar, é a chave da eficácia do fator enzimático
para você.
*Autor do livro A
Dieta do Futuro.