terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Hortas Orgânicas em Cuba


Hortas Orgânicas em Cuba

Durante décadas, Cuba usou agrotóxicos e adubos químicos na agricultura. Hoje, quase toda a agricultura é orgânica, mostrando como alimentar um mundo faminto


A
pós a revolução cubana em 1959, quando Fidel Castro chegou ao poder, Cuba entrou em período de rápida modernização. A agricultura cubana foi industrializada, dominada por amplas monoculturas de produtos para o mercado (principalmente açúcar e fumo, mas também banana e café).
Os Estados Unidos impuseram um embargo econômico à Cuba comunista, forçando a pequena nação a depender do comércio com a União Soviética e outros países do bloco comunista. Condições comerciais generosas, oferecidas pela União Soviética, permitiram que Cuba vendesse seu açúcar por cinco vezes o preço de mercado e comprasse petróleo e defensivos agrícolas a baixo custo. Cuba dependia da importação de alimentos — comprando 100% do trigo, 90% do feijão e 50% do arroz consumido. Milhares de tratores foram comprados para substituir os tradicionais arados puxados por bois.
O colapso da União Soviética em 1989 foi um desastre para Cuba. O cancelamento da ajuda soviética significou que 1.300.000 toneladas de adubo químico, 17.000 toneladas de herbicidas e 10.000 toneladas de agrotóxicos não podiam mais ser importadas, e o combustível disponível para a agricultura diminuiu drasticamente. Em um ano, Cuba perdeu mais de 80% de seu comércio, e os preços do açúcar caíram. Pela primeira vez desde a revolução, o povo cubano enfrentou fome e desnutrição.
Para enfrentar essa crise, o governo e povo cubanos vêm trabalhando durante a última década com os recursos que restaram: gente, terra, animais, conhecimento e criatividade.
Milhares de pequenos lotes de terra dentro e nos arredores da capital, Havana, foram distribuídos a moradores que os transformaram em hortas produtivas. Em 1998, já havia mais de 8.000 sítios urbanos e hortas comunitárias cultivados por mais de 30.000 pessoas.
Hoje, essa agricultura urbana supre boa parte da necessidade de alimentos de Cuba.

As hortas urbanas de Cuba
A quantidade de alimentos produzidos pela agricultura urbana aumentou de 40.000 toneladas em 1995 para 115.000 toneladas em 1998.
Em 1999 a agricultura urbana orgânica (principalmente em Havana) produziu:
65% de todo o arroz consumido no país
46% dos vegetais frescos
38% das frutas não cítricas
13% de raízes, tubérculos e bananas
6% dos ovos

Quase toda a produção desses sítios é orgânica, pois é proibido por lei usar agrotóxicos dentro dos limites da capital. Os agricultores urbanos também descobriram que os problemas com pragas diminuíram devido à grande diversidade das plantas cultivadas. "Estamos atingindo o equilíbrio biológico. As pragas estão sendo controladas pela presença constante de predadores no ecossistema. Quase não preciso aplicar qualquer substância para o controle", comenta o responsável por uma das hortas urbanas.
No campo, criaram bois para substituir os tratores que se tornaram inúteis devido à falta de combustível e de peças sobressalentes. O esterco é usado para fertilizar e para formar a estrutura do solo. Um sistema integrado de controle de pragas está sendo desenvolvido para substituir os pesticidas que não estão mais disponíveis.
Foram estabelecidos mais de 200 centros regionais para informar sobre o controle biológico de baixo custo para substituir os defensivos agrícolas. A broca da cana-de-açúcar é combatida com enxames de um tipo de mosca parasítica, a Lixophaga. As lagartas são combatidas por uma pequena vespa, a Trichogramma, que se alimenta dos ovos das lagartas. Talos de bananeira são embebidos em mel para atrair formigas; estes talos são depois colocados nas plantações de batata-doce, onde as formigas controlam a broca da batata-doce — uma das grandes pragas.
Utilizando com sucesso técnicas orgânicas em todo país, Cuba mostrou que consegue alimentar sua população — neste caso, 11 milhões de habitantes — sem precisar de produtos químicos caros. Mostrou também como a produção em pequena escala pode ser eficiente, com a maior produtividade vinda de várias hortas urbanas cultivadas pela população local. Trata-se de um estudo de caso muito importante para o debate sobre a possibilidade de alimentar o mundo com formas ecológicas de agricultura.

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