Esforcemo-nos para nos tornar
bons ingredientes da sopa cósmica, tendo plena consciência de que não somos o
cozinheiro.
segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
Alimentos e a gênese das enfermidades
Minha experiência de mais de 25 anos com doentes me permite
afirmar que os alimentos respondem, no máximo, por 49% da gênese de uma
enfermidade. Os outros 51% devem ser atribuídos a fatores emocionais
(manifestos ou reprimidos), mentais (como obsessões ou fobias), espirituais
(relacionados com o sentido da vida), e a práticas diárias (tais como
respiração, sono e atividade física).
Michael Rossoff
quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
A fragilidade terrena e sua causa principal
A fragilidade terrena
e sua causa principal
Friedrich Nietzsche*
O
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lhando em torno, sempre deparamos com
pessoas que durante a vida inteira comeram ovos e não notaram que os de forma
alongada são os mais saborosos, que não sabem que uma tempestade é benéfica
para o ventre, que odores agradáveis são mais fortes no ar frio e claro, que o
nosso olfato não é o mesmo nas diferentes partes da boca, que toda refeição em
que se fala ou se ouve muito é prejudicial ao estômago. Ainda que esses
exemplos da falta de sentido de observação não satisfaçam, deve-se admitir que
as pessoas veem mal e raramente atentam às coisas
mais próximas possíveis. E isso não tem importância? – Considere-se, porém,
que quase todas as enfermidades físicas e
psíquicas do indivíduo decorrem dessa falta: de não saber o que nos é
benéfico, o que nos é prejudicial, no estabelecimento do modo de vida, na
divisão do dia, no tempo e escolha dos relacionamentos, no trabalho e no ócio,
no comandar e obedecer, no sentimento pela natureza e pela arte, no comer,
dormir e refletir; ser insciente e
não ter olhos agudos para as coisas
mínimas e mais cotidianas – eis o que torna a Terra um “campo do
infortúnio” para tantos. Não se diga que aí, como em tudo, a causa é a desrazão humana – há razão bastante e
mais que bastante, isso sim, mas ela é mal
direcionada e artificialmente
afastada dessas coisas pequenas e mais próximas. Sacerdotes e professores,
e a sublime ânsia de domínio dos idealistas de toda a espécie, inculcam já na
criança que o que importa é algo bem diferente: a salvação da alma, o serviço
do Estado, a promoção da ciência, ou reputação e propriedades, como meios de
prestar serviços à humanidade, enquanto seria algo desprezível ou indiferente a
necessidade do indivíduo, seus grandes e pequenos requisitos nas vinte e quatro
horas do dia. – Já Sócrates se defendia com todas as forças contra essa
orgulhosa negligência das coisas humanas em nome do ser humano, e gostava de
lembrar, com uma frase de Homero, a área e o conteúdo reais de toda preocupação
e reflexão: é aquilo e somente aquilo, dizia ele, “que em casa me sobrevém, de
bom e de ruim”.
*O
andarilho e sua sombra, na tradução de Paulo César de Souza.
Globalizemos a Luta, a Esperança e o Conhecimento Camponês
Globalizemos
a Luta,
a Esperança
e o Conhecimento Camponês
João
Pedro Stedile
E
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stamos assistindo
às graves consequências do modelo capitalista de produção no campo. A FAO acaba
de anunciar que pela primeira vez na história da humanidade chegamos a um
bilhão de pessoas que passam fome todos os dias. As agressões contra a natureza
têm gerado mudanças climáticas que afetam não apenas aqueles que vivem no
campo, como também quem vive nas cidades, em todos os continentes.
A água, por exemplo,
transformou-se em uma mercadoria que os capitalistas utilizam para obter
lucros. Hoje, a Coca-Cola ganha mais dinheiro vendendo água do que
refrigerantes: o litro de água potável é ainda mais caro que o de gasolina. Isso
nos diz que a vida em nosso planeta corre graves riscos, sobretudo para os
seres humanos, caso não sejam tomadas medidas urgentes. Não se trata de
paranoia nem de loucura de ambientalistas. Todos os dias temos provas e
comprovações das nefastas consequências deste modelo de produção (e de
consumo).
Tudo isso acontece porque depois
que o neoliberalismo globalizou a forma capitalista de exploração na
agricultura, dois modelos de produção agropecuária estão em disputa em todo o
mundo.
De um lado, temos o modelo do
agronegócio (agrobusiness): o domínio
do capital sobre a produção dos bens da natureza. Isto é, a produção organizada
de acordo com o critério do lucro máximo. Para consegui-lo, seus partidários
buscam aumentar cada dia a escala de produção, tornando a área de monocultura
cada vez maior. E, para viabilizar este projeto, necessitam de máquinas, assim
como de grande quantidade de agrotóxicos.
O Brasil, por exemplo,
transformou-se no maior consumidor mundial de agroquímicos, aplicando 713
milhões de litros por ano. Isto significa 3 mil litros de agrotóxicos por
pessoa e 6 mil litros por hectare cultivado. Este modelo de produção agride o
meio ambiente, é insustentável e desloca a mão de obra; portanto, é
antissocial. Além do mais, só produz alimentos contaminados. Ou, pior ainda,
não produz alimentos: produz commodities,
produz mercadorias, produz dólares. Sua prioridade, como se vê, não é gerar
alimentos para as pessoas.
Do outro lado, temos a proposta
de uma agricultura familiar e camponesa, que vem se desenvolvendo ao longo da
história humana. Este modelo de agricultura baseia-se na diversificação de
culturas, na não utilização de agroquímicos e na harmonia entre todos os seres
vivos da natureza.
Este modelo de agricultura é
também o único que pode produzir alimentos sadios e viabilizar uma política de soberania
alimentar, onde cada povo possa e deva produzir seus próprios alimentos. Como
nos advertia José Martí: “um povo que não consegue produzir seus próprios
alimentos é um povo escravo”. Estava certo, porque este povo sempre dependerá
de outros para sua sobrevivência.
Para poder desenvolver-se e
sobreviver frente à hegemonia do capital, nossa agricultura camponesa enfrenta
grandes desafios em todo mundo. Primeiro, precisamos ser capazes de produzir alimentos
sadios para toda a população, sem utilizar agrotóxicos: um desafio
impressionante, sem dúvida. E, para ser sustentáveis ambientalmente, precisamos
desenvolver técnicas agrícolas de produção que aumentem a produtividade do
trabalho e a produtividade física de áreas cultivadas, sem agressões ao meio
ambiente.
Por último, precisamos
desenvolver sistemas de produção que garantam o aumento de renda dos camponeses
e trabalhadores do campo, para que tenham uma vida melhor e para gerar
alternativas de trabalho não agrícola, no campo, para nossa juventude. Isto é,
que nossos sistemas de produção estejam articulados com cooperativas,
agroindústrias locais e processos educativos, que gerem novas formas de
trabalho – por meio do conhecimento científico – para a juventude.
Os desafios são grandes e as
respostas virão a longo prazo, mas dessas respostas dependerá o futuro da
humanidade. Para enfrentar tais desafios, o movimento camponês mundial deve
buscar as respostas na sabedoria popular, organizando os conhecimentos que a
humanidade tem acumulado ao longo dos séculos, para usá-los em cada bioma, em
cada sistema da natureza onde os povos vivem. Isto é, precisa recorrer à
ciência, pois os conhecimentos científicos não são senão a sistematização de
conhecimentos sobre a realidade da natureza. Ao mesmo tempo, necessita de uma
organização popular, dos camponeses, com unidade de propósitos e persistência
em seus objetivos.
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