Os
Perigos do Leite
“Durante
uma entrevista matinal, transmitida ao vivo pela TV em todo o país, o pediatra
mundialmente famoso Benjamin Spock foi inquirido sobre se havia em sua
trajetória algo de que pudesse se arrepender. ‘Quisera ter descoberto, sessenta
anos atrás, quão perigoso é o leite para nossas crianças’, respondeu ele. A
transmissão foi, abruptamente, interrompida.”
Com
este episódio – que não deixa dúvidas sobre o poder da indústria de laticínios –,
Patricia Murray abre o artigo Breast is
for Baby* em que expõe os inconvenientes éticos e fisiológicos da ingestão
do leite e seus derivados. Antes de fazê-lo, entretanto, a autora enfoca as
transformações por que passam as glândulas mamárias da mulher tendo em vista as
necessidades do rebento.
Lembra-nos
Patricia Murray que a partir de segundo trimestre de gravidez as glândulas
mamárias das mulheres se transformam: “Elas crescem e se expandem a fim de
aumentar a capacidade de armazenamento.” Alguns dias antes e depois do parto,
as mamas produzem um líquido amarelado, rico em anticorpos, chamado colostro. O
colostro garante a imunidade do bebê a doenças por aproximadamente um ano.
Segue-se então a fase de adaptação das mamas a uma nova função: o corpo da mãe
transforma o alimento em sangue, e a partir do sangue as mamas produzem leite.
Durante um ano ou mais, desempenham elas esse insubstituível papel de fabricar
o alimento perfeito para o desenvolvimento do cérebro e do sistema nervoso da
criança.
Demonstrada
a conformidade entre o leite humano e o organismo do rebento humano (o que
seria óbvio não fôssemos nós criaturas assombrosamente estúpidas), Patricia
Murray volta-se então para a análise do leite de vaca.
Um
dado recolhido pela autora logo nos chama a atenção: os nutrientes fornecidos
pelo leite de vaca foram projetados pela natureza para, no decorrer de um ano,
transformar um bezerro de 50 kg num boi de 400 kg. Trata-se de um alimento
entre cujas características está um forte estímulo ao crescimento. Portanto,
não fiquemos surpresos se as meninas de hoje, consumidoras insaciáveis de
laticínios, menstruam aos 11 anos.
Outra
desvantagem resultante da ingestão do leite e seus derivados diz respeito às
substâncias artificiais ministradas aos rebanhos e encontradiças nos
laticínios. Patricia Murray enumera as principais: hormônios para aumentar o
úbere e, consequentemente, a produção de leite; antibióticos para combater as
doenças do úbere; sedativos para tornar suportáveis as condições insuportáveis nas
quais os rebanhos são obrigados a viver; e o hormônio recombinante de
crescimento bovino (Posilac). É preciso adicionar a essa lista já condenável o
pus proveniente da inflamação dos úberes (mastite).
Como
se não bastassem os inconvenientes fisiológicos dos laticínios, a autora
descreve ainda as condições cruéis em que são mantidos os animais, conduzindo
seu artigo para o terreno da ética.
O
cenário apresentado por Patrícia Murray mostra, com precisão, o grau de
insanidade a que chegamos. Os bezerros, arrancados das mães e confinados assim
que nascem, berram até o esgotamento de suas forças. As vacas, em decorrência
da inflamação e do volume dos úberes, experimentam dores terríveis. Quem, em sã
consciência, poderia impingir a criaturas tão mansas sofrimentos tão grandes?
Aqueles
que, não obstante as denúncias de Patricia Murray, ainda se sentem atraídos
pelo leite e seus derivados devem se pautar pelos seguintes critérios: ingerir
pequena porção do produto (por exemplo, uma pitada de queijo numa tortilha) e
verificar-lhe a procedência (é imprescindível que as vacas não sejam alvo da
nossa crueldade nem da administração de substâncias químicas).
* Publicado na revista Macrobiotics
Today de janeiro/fevereiro de 2011.
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