Sagen Ishizuka:
A Potência Transformadora do Alimento
(Parte Terceira)
Sagen Ishizuka nasceu
justamente às vésperas de entrar o Japão nesse período de reviravoltas. Sua
família, pertencente à classe samurai, habitava uma remota região defronte ao
mar do Japão. Sua educação formal foi concluída quando contava ele 18 anos. Mas
Ishizuka não abandonou os estudos: neles prosseguiu por conta própria, sendo
particularmente atraído por línguas estrangeiras e ciência ocidental. De acordo
com a biografia escrita por Ohsawa, Ishizuka dominava o francês, o alemão, o
holandês e o inglês, o que lhe permitiu aprofundar-se nos estudos científicos.
Ele copiou à mão todo um volume sobre astronomia publicado em holandês.
Predestinado à medicina,
Ishizuka trabalhou num hospital em Fukui, sua terra natal, onde entrou em
contato como os métodos terapêuticos tradicionais. Exatamente quando a medicina
ocidental começou a introduzir-se no país, transferiu-se ele para Tóquio,
trabalhando e estudando num hospital da região. Com o tempo, graças a
continuados estudos de ciência e medicina ocidental, obteve o título de doutor.
Aos 28 anos tornou-se médico do exército japonês.
Desde a infância Ishizuka
sofria de enfermidade renal crônica, a qual se manifestava como inflamação
cutânea grave. No início de sua carreira militar, a doença intensificou-se e
ameaçou incapacitá-lo para a vida profissional. Como não conseguia alívio com a
medicina que ele próprio praticava, a medicina alopática, voltou-se então para
a tradição oriental. O Tratado de Medicina Interna do Imperador Amarelo
impressionou-o bastante. O livro estimulou-o a seguir uma linha de estudos e tratamentos
totalmente conflitantes com as novidades da época.
Escrito provavelmente no
ano 500 a.C., o Tratado de Medicina Interna do Imperador Amarelo consiste numa
compilação da sabedoria médica da antiga China. Trata-se de um manual sobre
anatomia humana, tipos e causas de doenças, métodos de diagnose e espécies de
tratamentos. Sua exposição baseia-se na Teoria dos Cinco Elementos ou Energias,
segundo a qual há cinco transformações da energia vital ou Ch’i. Os Cinco Elementos ou Energias correspondem à Terra, Água,
Madeira , Metal e Fogo. Órgãos, doenças, sintomas e tratamentos (na verdade,
todos os fenômenos) podem ser classificados de acordo com essas cinco “fases”,
todas dinamicamente relacionadas entre si. A maior parte da obra trata da
clínica e da técnica, embora se ocupe também dos princípios básicos da saúde e
doenças humanas.
O Tratado, por exemplo,
ensina que há uma relação fundamental entre alimento, saúde e doença. De acordo
com a Teoria das Cinco Energias, há cinco sabores – doce, ácido, amargo,
salgado e picante –, e cada um deles está em correspondência com determinado
órgão do corpo humano. Ingerir exageradamente um alimento de certo sabor
enfraquecerá o órgão ou função que lhe é correspondente. A alimentação,
portanto, pode ser a principal causa das doenças.
O livro também afirma que
o alimento constitui o meio fundamental para tratar as enfermidades. No texto
pode-se ler que na “época medieval” os sábios tratavam as doenças primeiramente
pela dieta, em geral prescrevendo um regime de papa de arroz por dez dias. Caso
este tratamento não eliminasse o problema, recorria-se a raízes e plantas
medicinais para harmonizar as energias. Acupuntura e moxabustão eram empregadas
somente como último recurso. Se as emoções e a força de vontade do paciente se encontram
em equilíbrio, diz o Tratado, obtém-se a cura simplesmente com cereais. Os
grãos possuem um poder especial como alimento humano. Água e grãos constituem a
raiz da vida, e “a morte sobrevém apenas quando a água e os grãos escasseiam.”
O arroz, em particular, é mencionado como alimento vital e harmonizante.
Métodos de prepará-lo, e até mesmo o combustível ideal para cozinhá-lo (palha
de arroz), são levados em conta.
A essência do Tratado
consiste no entendimento de que, por natureza, o homem é saudável, sendo a
doença uma anomalia. Para manter ou recuperar a saúde, é necessário apenas
viver em harmonia com o meio ambiente. O “autêntico sábio” vive de acordo com
as leis do Yin e Yang, as quais governam todos os fenômenos. Ele bebe e come
moderadamente, e regula sua vida em conformidade com os ciclos do sol, da lua e
das quatro estações. Desfruta, por conseguinte, uma vida longa e feliz. Está
mais interessado em prevenir as doenças do que em curá-las.
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