segunda-feira, 28 de abril de 2014

O Diagnóstico Preciso

O Diagnóstico Preciso

E
ra dor grande, dor de fazer muito Tarzan gemer como a macaca Chita. Vinha lá do fundo e estourava do lado direito do ventre. Pensei logo no apêndice supurado de meu tio Carlos. Por causa dele, foi esse irmão de minha mãe despachado mais cedo para outras esferas. Mas também podia ser o fígado, a vesícula, os intestinos, pois o que não falta é órgão mal humorado querendo aprontar com o dono. Fosse o que fosse, o jeito era gemer como a macaca Chita.

Gemer e chamar um táxi. Telefone na mão, a patroa procurava me animar: “Deixa de frescura, homem. Queria ver você parindo!” Mas a animação veio mesmo sob a forma mastodôntica do servente Quinzão. O brutamontes, nocauteando a minha já combalida imagem de varão, carregou-me em seus braços até o veículo.

Logo que deu a partida, o motorista inquiriu:

- Onde dói, companheiro.

Grunhi algo, o bastante, porém, para que o chofer, com a autoridade de um doutor formado em Harvard, sentenciasse:

- “Pedra nos rins. Tenho certeza!”

Foi tal a convicção com que o homem desferiu aquelas palavras, que só me restou julgá-lo lunático. Nenhum absurdo em concluir que anos de engarrafamento tresandaram-lhe os miolos. Agora, além da dor, ansiava eu por livrar-me também do motorista.

Já no hospital, passei por uma enfiada de exames. Atiraram-me a máquinas cuja função é vasculhar nosso corpo em busca de algum desconcerto, nem que seja aquele que nos matará sem dó nem piedade daqui a duzentos anos.

As máquinas, porém, em decorrência de algum chilique tecnológico, resolveram emudecer à minha presença. Calaram-se obstinadamente a respeito do que poderia ser a causa do meu sofrimento, prolongando-o ainda mais: os exames tiveram que ser refeitos; a angústia de fazê-los revivida; e os vitupérios que dirigi contra tudo e contra todos reproduzidos.

Duas horas após ter entrado no hospital, o diagnóstico, enfim, foi concluído: pedra nos rins!

A loucura não era bem a do taxista, mas a dessa medicina sem rosto que tudo aposta em equipamentos de alto custo não deixando um espaço sequer para a experiência, a sensibilidade e a intuição humanas.

  

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