domingo, 30 de março de 2014

Orgânicos: Da Fazenda Pedras Altas para o Restaurante Metamorfose

Orgânicos:
Da Fazenda Pedras Altas para
o   Restaurante Metamorfose




            Gandhi considerava a vida do agricultor a única digna de ser vivida. Não tenho dúvidas de que, se vivesse entre nós, Gandhi mudaria de opinião. Gandhi diria que a única vida digna de ser vivida é a do agricultor ecológico. Com o intuito de conhecer esse herói dos nossos dias, deixei o Rio em direção à Fazenda Pedras Altas no Brejal.

A região do Brejal está localizada no distrito da Posse, o quinto distrito de Petrópolis. Trata-se de região extremamente fértil, da qual provém grande parte dos produtos orgânicos do Estado do Rio de Janeiro. Numa das áreas mais altas do Brejal, denominada Vale dos Albertos, encontra-se a Fazenda Pedras Altas, com sua exuberante porção de Mata Atlântica ladeada por um rio.

Em 1980 representantes da recém-fundada Associação Harmonia Ambiental Coonatura, a lendária Coonatura, subiram ao Brejal à procura de terras para instalar o núcleo rural da cooperativa. Percorrendo a região, conheceram um grupo de lavradores que, após experimentar na própria carne os efeitos deletérios dos agrotóxicos, resolveram abandonar a agricultura pretensamente científica e resgatar as técnicas tradicionais de plantio. Esses mesmos lavradores, hoje concentrados na Fazenda Pedras Altas, é que levariam a bom termo, ao lado de dois jovens citadinos, a implantação e consolidação do núcleo rural da Coonatura. Graças ao seu trabalho, conhecimento e espírito aberto, por cerca de vinte anos puderam os associados da cooperativa contar com produtos livres de pesticidas e adubos químicos.

Quando tudo anunciava a dissolução da Coonatura, eles se anteciparam à tempestade que poderia desviá-los de seu destino e se reinventaram, criando uma microempresa chamada Biohortas. A Biohortas serviu para mantê-los unidos e garantir a comercialização de seus produtos até os dias que correm.



Ao contrário do que se poderia imaginar, décadas de trabalho árduo não lhes proporcionaram uma existência folgada. Vivem, como a maioria de nosso povo, uma vida de sacrifícios. Nem mesmo o seu bem mais precioso, a terra que fertilizam com o suor do rosto, lhes está assegurado. Precisam eles manter um estado de vigilância permanente contra os gananciosos que, por meios torpes, tramam destituí-los da propriedade.

Nada, porém, os abala. Basta que alguém os procure para que seja recebido com um sorriso largo e uma conversa amiga. Demonstram enorme prazer em narrar seus feitos, suas batalhas, suas aventuras. Transmitem-nos a certeza de que plantam orgânicos com paixão genuína, e que seus produtos, além de vitaminas e proteínas, encerram aquela substância etérea e impagável que é o amor. Sabem, de alguma forma, que são importantes, importantes para o futuro da Terra, importantes para o futuro do Homem.

Feitos, batalhas, aventuras: não é esse o universo do herói? E a que categoria, senão a do herói, poderiam pertencer os agricultores da Fazenda Pedras Altas?





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