Orgânicos:
Da
Fazenda Pedras Altas para
o
Restaurante Metamorfose
Gandhi considerava a
vida do agricultor a única digna de ser vivida. Não tenho dúvidas de que, se
vivesse entre nós, Gandhi mudaria de opinião. Gandhi diria que a única vida
digna de ser vivida é a do agricultor ecológico.
Com o intuito de conhecer esse herói dos nossos dias, deixei o Rio em direção à
Fazenda Pedras Altas no Brejal.
A região do Brejal
está localizada no distrito da Posse, o quinto distrito de Petrópolis. Trata-se
de região extremamente fértil, da qual provém grande parte dos produtos orgânicos
do Estado do Rio de Janeiro. Numa das áreas mais altas do Brejal, denominada
Vale dos Albertos, encontra-se a Fazenda Pedras Altas, com sua exuberante
porção de Mata Atlântica ladeada por um rio.
Em 1980
representantes da recém-fundada Associação Harmonia Ambiental Coonatura, a
lendária Coonatura, subiram ao Brejal à procura de terras para instalar o
núcleo rural da cooperativa. Percorrendo a região, conheceram um grupo de
lavradores que, após experimentar na própria carne os efeitos deletérios dos agrotóxicos,
resolveram abandonar a agricultura pretensamente científica e resgatar as
técnicas tradicionais de plantio. Esses mesmos lavradores, hoje concentrados na
Fazenda Pedras Altas, é que levariam a bom termo, ao lado de dois jovens
citadinos, a implantação e consolidação do núcleo rural da Coonatura. Graças ao
seu trabalho, conhecimento e espírito aberto, por cerca de vinte anos puderam
os associados da cooperativa contar com produtos livres de pesticidas e adubos
químicos.
Quando tudo anunciava
a dissolução da Coonatura, eles se anteciparam à tempestade que poderia
desviá-los de seu destino e se reinventaram, criando uma microempresa chamada
Biohortas. A Biohortas serviu para mantê-los unidos e garantir a
comercialização de seus produtos até os dias que correm.
Ao contrário do que
se poderia imaginar, décadas de trabalho árduo não lhes proporcionaram uma
existência folgada. Vivem, como a maioria de nosso povo, uma vida de
sacrifícios. Nem mesmo o seu bem mais precioso, a terra que fertilizam com o
suor do rosto, lhes está assegurado. Precisam eles manter um estado de
vigilância permanente contra os gananciosos que, por meios torpes, tramam
destituí-los da propriedade.
Nada, porém, os
abala. Basta que alguém os procure para que seja recebido com um sorriso largo
e uma conversa amiga. Demonstram enorme prazer em narrar seus feitos, suas
batalhas, suas aventuras. Transmitem-nos a certeza de que plantam orgânicos com
paixão genuína, e que seus produtos, além de vitaminas e proteínas, encerram
aquela substância etérea e impagável que é o amor. Sabem, de alguma forma, que
são importantes, importantes para o futuro da Terra, importantes para o futuro
do Homem.
Feitos, batalhas,
aventuras: não é esse o universo do herói? E a que categoria, senão a do herói,
poderiam pertencer os agricultores da Fazenda Pedras Altas?
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