segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O FEIJÃO NOSSO DE CADA DIA AGORA TRANSGÊNICO

O FEIJÃO NOSSO DE CADA DIA AGORA TRANSGÊNICO
                                                                     Denise Bloise*




         Na quinta-feira, 15 de setembro de 2011, a CTNBio – Comissão Técnica de Biossegurança – aprovou a produção e comercialização de sementes transgênicas de feijão carioquinha, desenvolvidas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa. A decisão contou com 15 votos favoráveis, duas abstenções (sendo uma do representante do Ministro Aloizio Mercadante) e cinco pedidos de diligência (solicitando mais estudos). Essa variedade de feijão transgênico é resistente ao vírus do mosaico dourado, que “ataca” as lavouras brasileiras.
         Várias questões devem ser consideradas. Nas últimas semanas circulou na internet um abaixo-assinado solicitando a liberação do feijão transgênico, subscrito pelos mesmos quinze membros da CTNBio que foram favoráveis à liberação.
         Na verificação dos efeitos sobre a saúde da variedade genética do feijão, não foram levados em conta estudos com mais de uma geração de animais, tampouco com animais prenhes.  Os estudos foram realizados com apenas três animais de uma única espécie. Perguntas do representante do Ministério da Saúde ficaram sem resposta, assim como questões levantadas em audiência pública anterior.
         Outro dado importante é que foram feitos 22 experimentos e apenas dois deram certos. Existe ainda a possibilidade de contaminação das demais variedades não transgênicas. O objetivo alegado de combater o mosaico dourado poderia ser facilmente resolvido através da aplicação dos princípios agroecológicos.
Segundo a Teoria da Trofobiose do francês Francis Chaboussou, a planta e o solo nutricionalmente equilibrados não são atacados por agentes exógenos e patógenos. Nasser Youssef Nars, agrônomo e ambientalista brasileiro, explorando a mesma vertente de pensamento, desenvolveu um princípio muito interessante que tem o mato como aliado. Ele costuma dizer que “Não existe praga, mas sim inseto com fome”.
Importante também considerar os estudos da pesquisadora e jornalista investigativa francesa Marie-Monique Robin a respeito dos alimentos geneticamente modificados. Segundo Robin, tais alimentos, que têm seus riscos omitidos, destroem culturas tradicionais e variedades genéticas, aumentam a padronização e a dependência tecnológica, e são a causa de preocupantes danos à saúde dos agricultores e consumidores.
Quanto à alegação de que tal tecnologia ajudará os agricultores familiares, o mínimo que podemos dizer é que é mentirosa. São justamente os pequenos agricultores - responsáveis, aliás, pela produção dos alimentos básicos que nos sustentam – que não têm condições de arcar com os custos financeiros da transgenia e da agroquímica.  Faz-se necessário mencionar a situação dos pequenos agricultores familiares na Índia, divulgada pela pesquisadora, física e ambientalista indiana Vandana Shiva, a qual protagoniza em seu país, junto com o movimento Navdanya, a luta contra os transgênicos e em defesa dos pequenos agricultores familiares. Vandana Shiva e Marie-Monique Robin apontam o quadro devastador causado pela atuação da Monsanto na Índia, com o seu “Cotton Bt”. Na região de Maharashtra, entre junho de 2005, quando o algodão transgênico Bt foi introduzido no Estado, e dezembro de 2006, 1.280 agricultores cometeram suicídio – uma média assustadora de um suicídio a cada oito horas. Relatam a tragédia desses pequenos agricultores indianos que, durante séculos, semearam seus campos e agora se veem às voltas com a compra de sementes, adubos e pesticidas; e por não conseguirem bancar esses custos, terminam em muitos casos ingerindo um frasco de Roundup.
O grupo pró-transgênico considera uma grande conquista o fato de ser essa semente do feijão carioquinha a primeira variedade geneticamente modificada produzida por instituições públicas brasileiras. A nosso ver, trata-se, nada mais nada menos, de que uma vergonha nacional: testes insuficientes, irregularidades nos procedimentos e conclusões inconclusivas.
 O Brasil vem apresentando um quadro acelerado de liberação de organismos geneticamente modificados, e uma variedade assustadora de transgênicos têm surgido. Resta uma pergunta – a quem isso interessa? Certamente, não aos pequenos agricultores, nem a nós consumidores.


*Denise Bloise é doutoranda em Ecologia Social  (UFRJ).

Nenhum comentário:

Postar um comentário